segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A alegria que vem do sofrimento



Na vida cotidiana do povo Moçambicano há uma mistura paradoxal de alegria e sofrimento. É um povo que sofre pela falta de necessidades básicas de alimentação, água potável e atendimento na área da saúde. Caminham longas distâncias de até 50Km em busca de atendimento médico, e na maioria das vezes voltam para casa sem solução. Muitos ainda se deslocam 15Km em busca de água. As lideranças da paróquia percorrem de bicicleta mais de 20Km para uma reunião do conselho paroquial. No entanto não poupam largos sorrisos, olhares serenos e fé confiante para continuidade da missão. Alegria e sofrimento são duas realidades aparentemente contraditórias que caminham juntas e na perspectiva da fé cristã assumem dimensão de ressurreição.
Tenho me lembrado muito de São Paulo aqui neste contexto. Na perseguição, prisão e sofrimento ao invés de escrever uma carta cheia de amargura, convoca a comunidade de Filipenses a alegria: “Alegrai-vos no Senhor! Repito: alegrai-vos!”(Fl,4,4). Inspirado por este grande apóstolo farei uma peregrinação missionária a pé de 80Km, visitando e celebrando em quinze comunidades. Saio de Moma, onde resido, no dia 30 de dezembro e chego em Chalaua no dia 14 de janeiro. Comigo irão três seminaristas da filosofia e teologia de nossa paróquia. Certamente passarei um ano novo diferente dos demais, não menos feliz por acreditar que estou cumprindo uma missão que recebi de Deus.
Pastoralmente ainda estamos celebrando batismos de crianças com visitas nas comunidades. Encontrei a poucos dias uma comunidade que a seis anos não celebrava a Eucaristia, isto num universo de 140 comunidades nas duas paróquias. Na hora de fazer o programa no conselho pastoral nos vemos limitados por não conseguir atender as reais necessidades e pedidos de visita do padre as comunidades. Ficam esperando para que este dia se concretize. É muito desafiador e ao mesmo tempo realizador ser padre neste ambiente de missão. Não há espaço para perder tempo ou ocupar-se com desvios do ministério.
A volta do Pe.Fabiano ao Brasil depois de uma missão bem cumprida, faz com que pessoalmente comece um tempo de deserto e espera de outro padre gáucho para compartilhar esta missão. Sei dos esforços que os bispos e toda Igreja do Rio Grande do Sul estão fazendo para que este compromisso missionário continue além fronteiras. O povo daqui continua rezando pedindo que o Espírito Santo convoque mais missionários.
Desejo a todos(as) que neste Natal nossos corações se voltem para o mistério escondido na pobre gruta de Belém, onde Deus despojou-se e veio ao nosso encontro para nos comunicar que o caminho da felicidade autêntica e verdadeira passa pelo mistério da encarnação. Gostaria de tê-los celebrando comigo de uma forma muito simples, como isto não será possível estaremos em comunhão para ouvir, de lugares tão distantes, a voz dos pastores dizendo: “Eis que vos anuncio uma grande alegria que será para todo povo, nasceu para nós o Salvador que é o Cristo Senhor”. Muita Paz e alegria na missão que o Espírito nos confiou.



Pe.Maurício da Silva Jardim
Missionário na Igreja irmã de Moçambique

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