segunda-feira, 8 de março de 2010

Missão sem fronteiras


Depois de mais de dez mil quilômetros e três dias em viagem, eu (Pe.Maurício), Tatiane (arquidiocese de Porto Alegre), Camila e Edenilson (diocese de Osório), chegamos ao aeroporto de Nampula, norte de Moçambique e fomos acolhidos pelo Pe.Luis, missionário espanhol que trabalhou 35 anos no Brasil.
Nossa primeira atividade tratou-se de colocar a casa em ordem, realizando faxinas, reformas e adaptações para a nova equipe do Regional Sul III que viverá na mesma casa e atuará nas paróquias de Micane e Larde, uma com noventa e nove comunidades e outra com quarenta e duas.
Moçambique, situa-se no sul da África e é banhado pelo oceano índico. Tem população aproximada de vinte milhões de habitantes. Teve história marcada pela colonização portuguesa e uma série de guerras, tanto do movimento de libertação, como pós-independência que se deu em 1975. O acordo de paz veio firmar-se em 1992. Desde então o país, embora “independente”, vive um processo de busca de autonomia econômica, social e política.
A educação é uma área que merece destaque para entender melhor a missão que os missionários leigos recém chegados irão atuar: O sistema educacional do país não favorece o ensino para todos. Poucos chegam à escola, chegando a quarenta por cento de analfabetismo. Há histórias de alunos relatando que para passarem de classe precisam oferecer algo ao professor. Um número reduzido chega concluir o ensino médio por falta de condições mínimas, como: dinheiro para matricula, casa para viver na sede do distrito onde há escola secundária, uniforme, cadernos, livros didáticos e outras condições que impedem de continuarem os estudos.
Deste modo a atuação específica dos missionários leigos será no campo da educação através de reforço escolar da oitava a décima segunda classe e também atividades recreativas e culturais. Outro trabalho que irão acompanhar é com um grupo de nove jovens vocacionados. Com eles será realizada formação complementar e acompanhamento pedagógico.
Além desta atuação teremos os desafios pastorais na formação de lideranças, sobretudo jovens e mulheres. Outro projeto que iremos acompanhar é o desenvolvimento de pequenas associações para gerar trabalho e renda que responda a grande problemática da fome. Nesta época do ano, muitos sobrevivem de uma alimentação diária baseada em folhas de mandioca. As crianças nos dizem que a fome os acompanha e não há perspectivas de mudança deste quadro de pobreza.
Também teremos oportunidade de visitas as comunidades do interior, onde no contato com a cultura mackua que é marcada pela festa, dança, simplicidade e alegria na acolhida. Todos olhares se revelam curiosos pela presença de um mukunha (branco) no meio deles. Ficamos em cada comunidade um dia completo, participando das partilhas, celebração eucarística e rodas de batuque a noite. O que sempre nos impressiona é o fato de um povo tão sofrido e marcado pela guerra e pobreza, se mantém na generosidade e na alegria de viver, expressa em sorrisos largos e gratuitos.
Sempre nos parece difícil expressar a riqueza desta experiência missionária. Pedimos sempre que nos acompanhe pela oração e compromisso com este projeto da Igreja do Rio Grande do Sul.


Pe.Maurício da Silva Jardim
Missionário em Moçambique