tag:blogger.com,1999:blog-67519596220396576782024-03-12T15:59:32.572-07:00Missão em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.comBlogger22125tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-8753797388417093062011-12-19T23:23:00.000-08:002011-12-19T23:24:31.212-08:00Mãe África, preciso partir...Antes de partir quero me despedir e não sei bem como. Quando comecei organizar a mala, entregar pastas, rever documentos das paróquias, fotos, anotações pessoais e mensagens das comunidades, me veio no coração palavras de gratidão. <br />Agradeço-te mãe áfrica que a mim se mostrou no seu realismo, diverso da visão romântica dos safáris e dos programas turísticos. Convivi com uma parcela muito pequena de teus filhos e filhas do imenso continente. Particularmente a mim você se mostrou no povo mackua do norte Moçambicano. Gente simples e resistente que trabalha na machamba (roça) e caminha diariamente a procura de água para beber, cozinhar e tomar banho. <br />Alegrei-me quando a mim se revelou na imensidão de crianças que andam e brincam em grupos. Também cansei de tanto ser olhado e admirado por elas em toda parte. Com elas brinquei e quebrei protocolos da oficialidade das visitas nas comunidades. Elas fazem parte da tua fecundidade e riqueza. Peço aos teus filhos adultos que as considere melhor, organizando esteiras para sentarem nas celebrações e tratando-as com igualdade na hora de comer e vestir. <br />Surpreendi-me com o universo juvenil de teu povo. São eles pai ou mãe de muitos filhos e até mesmo avó e avô dizendo-se jovem, dançando, cantando e rezando como tal. Foram muitas partilhas, formações e descobertas. Seus cânticos, danças e batuques dão vida às liturgias e festas. <br />Admirei-me vendo tuas filhas indo para machamba (roça) vestidas de coloridas capulanas, carregando seus filhos nas costas e trazendo pote de água ou lenha na cabeça. Elas expressam a luta cotidiana do teu povo em busca sobrevivência. Há um longo caminho a percorrer para sua promoção e inclusão social. Elas ainda são na realidade um grito silencioso por liberdade. <br />Com teu povo vive as dores da malária que mata multidões pelo frágil sistema de saúde. Aqui a média de vida do teu povo é 40 anos. As doenças que mais matam já têm cura em outros países, mas teus filhos não tem acesso. Morrem sem saber a causa. <br />Com tuas pequenas comunidades ministeriais, me encantei, rezei, celebrei sacramentos, dancei, silenciei, dormi em tuas palhotas, nas esteiras e nas camas de corda. Nada me faltou. Mas com elas também me decepcionei pela fragilidade em fazer dos ministérios, cargos e cadeiras de poder. É verdade que teus filhos sofreram e sofrem influências de todo lado: do colonialismo português, das guerras, das ideologias importadas, do tribalismo e do regime atual de governo que fazem de ti o que na origem não és. Contudo, mesmo nas minhas decepções, ainda te vejo hospitaleira, simples, mística, acolhedora da palavra de Deus e aberta ao Espírito. <br />As lideranças mais velhas me dizem que as comunidades eram mais evangélicas naquele tempo de perseguição e guerra. Escondidas, rezavam no mato sem poder acender fogo para que o inimigo não lhe descobrisse. Teus filhos andavam mais a pé em busca da palavra e da eucaristia. Eram poucos os teus ministros ordenados e te manteves na fé pascal que formou muitas comunidades. Agora teus sonhos estão a mudar. Os cristãos pensam em te cobrir com chapas de zinco, dizendo que a palha dá muito trabalho. Algumas de tuas igrejas já levam nome do dono, deixando de ser comunidade cristã que se constrói na liberdade e na participação de todos. <br />Pois é mãe áfrica, “o progresso” com suas contradições, chegou a ti. As caminhadas a pé deram lugar as bicicletas e hoje as motos viraram sonho de consumo dos camponeses. A quem já se divorciou depois que comprou motorizada. A cultura dominante já entrou pela música, novelas, roupas, plástico e modas. Tuas vilas com energia elétrica esbanjam invasão capitalista. Tuas feiras nos interiores são pequenos mercados globais. Tuas florestas, teus minérios e tuas riquezas naturais viraram mercadoria para os países ricos. Tua madeira é levada em toneladas diariamente pelos chineses. <br />Conheci pouco de tua religião tradicional. Mas sei de sua influência no coração do povo. Penso que há valores e limites nela. Pode promover vida, mas também pode levar ao medo, a morte e a opressão dos teus filhos. Há histórias dos que conseguiram a cura e também dos que já morreram nas mãos de feiticeiros que usam drogas e venenos. <br />Mãe áfrica, uma voz grita no teu deserto. Tuas crianças, jovens, homens e mulheres, velhos, reis e camponeses estão a gritar por justiça, paz, comida, acesso a água, educação e saúde. <br />Confesso que em 2008 atravessei oceanos com a missão de te evangelizar. Espero que nestes anos te ajudei na construção do Reino de Deus. Mas creio também que você me evangelizou, me acolheu e amadureceu meu coração de pastor. Agradeço pela paciência que teve comigo. Nestes anos carreguei um tesouro em vasos de barro. Por isso, peço desculpas pelos meus erros. <br />Finalizo expressando que fui muito feliz com teu povo nesta missão, não sei se da mesma forma eles foram felizes com minha presença. Mãe África, chegou meu tempo de partir com o coração agradecido. Obrigado (Koxukuro). Já vou (Korowa). <br /><br /><br /><br /><br /><br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Dezembro de 2011.Pe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-27049069543653100582011-10-20T00:18:00.000-07:002011-10-20T00:23:14.709-07:00A Missão entre as missõesA missão faz refletir à missão. Mais de três anos passaram desde minha partida do Brasil até Moçambique. Neste tempo, cresceu-me a consciência de que a iniciativa e provocação missionária foi graça do Espírito de Deus. Já na chegada me perguntava: Qual missão entre tantas missões estou sendo convocado? <br />O cotidiano carregado de surpresas e imprevistos, intercalado com a escuta orante da Palavra de Deus me fez pensar sobre o essencial e o conjunto da missão. Em África onde se fala e vive a pobreza absoluta, somos tentados fazer da missão um dar coisas, reformar antigas estruturas ou cair nas lógicas falidas de nosso mundo onde o dinheiro aparentemente resolva tudo. Missão para e não missão com. Ao chegar vive-se este dilema. O que fazer? <br />Nós missionários estrangeiros ainda somos vistos como aqueles que podem dar. Somos brancos, temos carro, casa bem situada e não nos falta comida e água. Muitos vem até nós com a expressão mackua “Mukivahe” que significa dá-me. Com mãos estendidas as crianças nos encontram vindo do mercado e nos dizem: “dá-me pão”. Se dermos pão a uma, outras aguardam nossa atitude e esperam também receber. Também nos pedem carona, medicamentos, dinheiro, emprego, cimento para construir capelas, poços nas comunidades, apoio para pequenas associações, cadernos, canetas, bicicletas, pastas e há aqueles que pedem Bíblias, terços e livros.<br />As marcas deixadas pelo colonialismo português, aqui acampado durante séculos, a situação de pobrezas sociais, a guerra civil, a situação política corrompida e as organizações não governamentais que aqui atuam, contribuíram e contribuem para esta mentalidade de receber. Os que chegam na missão em Moçambique passam por esta dúvida e por este teste: Dar ou não dar aquilo que te pedem. Assim fui aprendendo que é preciso dizer não, para dizer sim a um projeto de missão que construa e fortaleça pequenas comunidades ministeriais e autônomas. <br />A atitude de colocar-se como fraco, pobre e necessitado já é missão. Jesus nos recomenda: “Vão!...não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias”(Lc10, 3-4). A Missão evangélica se faz com meios pobres, sem barulho, sem arrogância de visibilidade e sem demonstração de força com meios poderosos onde transita altos valores econômicos. A atividade missionária dos discípulos de Jesus tem raízes pobres e atitude permanente de fé e confiança no Espírito que atua silenciosamente nos corações. <br />A missão entre as missões carrega um conteúdo de paz e de anúncio de que o Reino chegou. “Digam primeiro: A paz esteja nesta casa!” (Lc10,5b); “curem os doentes e digam ao povo: O Reino de Deus está próximo de vocês” (Lc10,9). Deus envia para cidades e lugares onde Ele próprio devia ir. E lhes dizia: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos”(Lc10,2). Missão de colheita. O que significa? Antes de chegarmos aos lugares concretos de missão, Deus já chegou bem antes e fez todo trabalho da graça de preparar a terra, semear, limpar e fazer crescer. Basta de nós a paciência da espera, a escuta, o conhecimento do terreno, a identificação dos frutos e a colheita propriamente dita. <br />Estando nas missões, ainda peregrino na busca do essencial da missão. O tesouro escondido do Reino onde habita corações apaixonados. Já descobri que o mais importante não é dar coisas, mas dar a si mesmo e partilhar dons recebidos. Valeu atravessar oceanos na busca e na oferta daquilo que a traça e a ferrugem não podem destruir. “Busquem o Reino, e Deus vos dará todas as coisas como acréscimo” (Lc12,31). <br />Ainda sonho que o projeto missionário que nos enviou continue oferecendo de sua pobreza, padres, irmãs e leigos(as) a outras dioceses necessitadas de Moçambique como Lichinga e também a outros países do continente africano. Não tenhamos medo, o Pai de ternura que nos envia, cuida, veste, protege, ampara e alimenta seus filhos.<br /><br /><br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Missionário em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-85138578132802819382011-08-29T12:22:00.000-07:002011-08-29T12:25:31.179-07:00Tempo e missãoCompletados três anos na missão, tenho refletido e partilhado sobre o tempo. O tempo cronológico, o tempo como fato ou acontecimento, o “tempo perdido”, o tempo real e o tempo que se faz missão na gratuidade. Concepções múltiplas sobre o tempo que definem estilos e projetos de vida.
<br /> Nas reflexões sobre o tempo tenho como base dois mundos. Aquele ao qual sou filho e este ao qual vivo como missionário. Entre as lógicas moçambicanas do povo macua e as nossas lógicas globalizadas, o tempo é marcado ou vivido de modos diversos. O tempo como força que envelhece, mata, distancia, produz e lucra e o tempo como gratuidade, perda, ausência e direito de ser “inútil e improdutivo”.
<br /> Aqui na missão acostumamos dizer que um dia parece ter muito tempo. O tempo não é medido e acelerado. O dia termina ou inicia com expressões: “já anoiteceu e já amanheceu”. A noite é feita para dormir. Não se faz mais nada ao anoitecer, além do jantar e do encontro familiar. No ritmo diário se faz uma coisa de cada vez e o tempo real parece ser bem aproveitado. Também se aprende viver e desfrutar do momento presente sem precisar fazer nada. Estar com os outros, ouvi-los ou simplesmente amá-los sem necessidade de produzir, ensinar ou dar algo. A impressão que dá é que o tempo é nosso. Foi dado a nós como oportunidade de estar todo nele na missão que Deus nos confiou.
<br />Neste mundo de poucos relógios e agendas, não se festeja aniversários. Ninguém conhece o dia, mês ou ano de nascimento. As referências são pessoas, acontecimentos ou fatos marcantes. Nasceu no tempo do padre Camilo, antes do ciclone, quando o Morola era rei da tribo. Assim o que determina categorias, idades e fases da vida são outras referências.
<br /> No mundo que nasci, onde os relógios estão em toda parte, ouvi sempre pessoas falarem que não tem mais tempo. O tempo lhes foi roubado. Os ladrões ocuparam todo o tempo com agendas lotadas. O paradoxal desta lógica é que não ter mais tempo dá uma satisfação de herói. Convivem conosco estes heróis que há anos não fazem férias e não encontram tempo para si e para os outros, como se tudo dependesse deles. São estes que recebem lugar de destaque e são reconhecidos como vencedores, contudo se tornaram escravos do tempo. Ocupar o tempo desta forma pode dar a sensação de nada ter feito ao término de cada dia, ou ainda mais trágico, nada ter feito no final da vida.
<br /> Sem verbalizar agimos como se o tempo fosse dinheiro, por isso não devemos perdê-lo. Desde criança, “nossos educadores” nos ensinaram as leis do mercado competitivo que não admite perdas de tempo. Quem ocupar todo seu tempo chegará por primeiro. Chegará ao topo com muito sucesso e dinheiro, no entanto sem tempo.
<br />Na missão descobri que nós temos o relógio, o calendário e as agendas, mas os africanos é que têm o tempo. Tempo que é governado pelas fases de preparo da terra, plantio, cuidado, colheita e queimadas. Há tempo de espera e de comercialização do produto. Tempo de seca e de chuvas. Tempo de fome e fartura. Tempo de calor e frio. Tempo dos sacramentos e das formações. Na realidade há tempo para tudo e até hoje não ouvi de um moçambicano que não tenho mais tempo.
<br /> Aqui os donos do tempo me ensinaram que missão se faz na gratuidade que não se mede e codifica. A missão acontece mais na dimensão do ser que abre brechas no tempo, do que do simples fazer produtivo. Neste sentido, valeram mais as horas e os dias de presença gratuita nas visitas em comunidades.
<br />Assim espero que estas reflexões provoquem novas atitudes e novos olhares sobre o tempo na sua relação com a missão. Que o Pai, dono da missão, continue dando aos trabalhadores da última hora o mesmo salário.
<br />
<br />Pe.Maurício da Silva Jardim
<br />Missionário em Moçambique
<br />Pe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-82480867767394106512011-06-16T12:39:00.000-07:002011-06-16T12:40:18.804-07:00Cândido dos AnjosEra o nome de nosso sentinela. Vigiou a casa dos padres em Moma por mais de quinze anos, mesmo em épocas sem moradores. Tinha viva a história das pessoas que por ali passaram. Em meio seus cadernos trazia fotos e lembranças daqueles e daquelas que acompanhara nesta casa. Matava saudades simplesmente vendo imagens. Às vezes com suspiros, lamentava do vai e vêm dos habitantes, brancos e estrangeiros, que tampouco acostumara e já era tempo de voltar ao seu país. Mas concluía: “é assim mesmo a vida de missionários, não param”. <br /> A doença que o levou a morte me fez entrar no sistema de saúde mais desumano que já conheci. Em Moma, “há hospital”, onde os doentes estão em tendas de lonas ao lado de um lindo prédio que iniciou sua reforma em 2008. O ministério da saúde ainda não liberou a migração dos doentes das precárias tendas para as novas estruturas por falta de instalações adequadas de água. É comum que pacientes cheguem até a emergência e as consultas com doenças graves e recebam paracetamol ou medicamentos coloridos, sem diagnóstico preciso. A maioria dos casos são encaminhados para cidade de Nampula que fica 210 Km. Mesmo as mulheres que necessitam de cesariana devem ser encaminhadas, pois em Moma não há sala de cirurgias. Há apenas um silencioso sofrimento com morte das mães com suas crianças. <br />Em Nampula, onde existe um hospital referência para todo norte do país, chegam doentes de vários distritos e províncias em busca de saúde. É mais uma estação desta via sacra. Lá existem poucos médicos especialistas. Chegamos até uma médica de Cuba, urologista. A única para todo o norte com esta especialidade. Quando conseguimos consulta, logo encaminhou internação do Cândido num imenso dormitório superlotado. Havia doentes por todo lado, alguns sentados em cadeiras, porque as camas estavam lotadas e outros deitados em colchões espalhados pelos corredores. Ali naquele calvário de dores e mau cheiro tivemos que deixar nosso amigo sentinela. Não havia outra solução. Fomos buscar vida e sentimos cheiro de morte em todo canto. <br /> Ficou hospitalizado um mês, esperando que lhe fizessem ecografia total. A única máquina era disputada por multidões e ficou parada por uma semana em manutenção. Lá muitas vezes acompanhamos a cruz pesada do Cândido, embora nele não havia revolta e desespero. Logo que saiu o diagnóstico de câncer de bexiga, foi imediatamente liberado para voltar a Moma. Já não havia nada o que fazer. Restara o consolo de voltar a terra onde foi gerado para assim despedir-se. Desde sua chegada em casa, no seu leito sempre haviam vigias da familia que em silêncio contemplavam sua dor. <br /> Depois de sua morte, fui procurar no dicionário qual o significado de Cândido: “inocente, puro”. É assim mesmo. Ele como tantos que conheci em Moçambique são inocentes e puros de coração, vivem na periferia das lógicas ocidentais que aprisionam pessoas e as colocam correndo na mesma direção. <br /> Nenhuma força conseguira acorrentar nosso sentinela. Em meio a dor, paradoxalmente não perdera a serenidade. Morreu pobre e livre. Foi um bem aventurado. Já em vida, dividira seus bens. Ultimamente repetia que viera ao mundo sem nada e voltaria para casa do pai sem nada. Lembrei destas palavras quando fomos ao túmulo no terceiro dia plantar a cruz e flores. Como de costume, entre os cristãos, na madrugada se reúnem na casa do falecido e com orações caminham até o cemitério na certeza da ressurreição e do grão de trigo que morre e produz frutos. Neste dia ninguém mais chorou. <br /> <br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Missionário em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-4673118196320670072010-09-28T23:35:00.000-07:002010-09-28T23:40:39.010-07:00Escolinha de Jesus<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNXXenjLYRjp1usni_F5BGx3sFVgxpvKX7iDHCjhrVgjY8KRqjmRdN0x5E8SYglmH9YHWaFPhRaPD9mHw90HkX_tFQHV2eUw-H9BWzNjnmVU1b9E9N6-6I6m6iqmxNudus6zVujXeAsAU/s1600/DSC04378.JPG"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNXXenjLYRjp1usni_F5BGx3sFVgxpvKX7iDHCjhrVgjY8KRqjmRdN0x5E8SYglmH9YHWaFPhRaPD9mHw90HkX_tFQHV2eUw-H9BWzNjnmVU1b9E9N6-6I6m6iqmxNudus6zVujXeAsAU/s320/DSC04378.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5522221606578156642" /></a><br />Que novidade traz este mês missionário? <br />Aqui em nossas experiências missionárias em Moçambique, vivemos diante de novidades e surpresas cotidianas. Estamos em tempo de sínodo aqui na arquidiocese de Nampula, por isso em nossa agenda de setembro tivemos nove assembléias sinodais nas regiões pastorais. É apenas o primeiro ano de uma longa caminhada. O que me impressiona, é que nenhuma das cento e quarenta comunidades, faltaram nestas assembléias. Chegam caminhar a pé ou vir de bicicletas quarenta quilômetros para reuniões de um ou dois dias. Quando os vejo sentado nas esteiras o dia inteiro de trabalho ou a noite dormindo debaixo dos cajueiros compreendo um pouco do que significa ser missionário. <br />Tenho refletido de que missão e discipulado são inseparáveis. Quando separamos, corremos o risco de fazer da missão a realização de nossos projetos pessoais. Se não for missão em nome de Jesus na força do Espírito e com envio da Igreja, cai-se na tentação de reduzir a missão em fazer muitas coisas, mesmo que úteis e necessárias. Missão na perspectiva dos relatos evangélicos exige tempo na escolinha do discipulado de Jesus. Nesta escolhinha não há formatura. É um itinerário que se faz passo a passo no seguimento a Jesus. <br />Sonho com uma escolinha do discipulado que prepare missionários(as) para diferentes frentes de missão. Uma escolhinha baseada no evangelho, sem doutores, mas com testemunhas. Uma escolhinha de itinerários que levam o discípulo (a) a experiência de uma profunda amizade e intimidade com Jesus e sua proposta. O modelo desta escolhinha não seria o mesmo de nossas universidades que herdaram da escolástica o método indutivo. Estas, tem o mérito de formarem bacharéis, mestres e doutores especialistas na argumentação e na racionalidade. Sem desprezar estas, sonho com outro modelo, outro método, o dedutivo-testemunhal. <br />Nesta escolinha do discipulado não haveria salas de aulas convencionais com mesas, cadeiras e cátedra. Cada aprendiz receberia na inscrição uma Bíblia e um avental. No currículo as aulas práticas ocupariam maior espaço. O enfoque no discipulado teria grande relevância nas reflexões. Os temas seriam divididos em etapas que favorecessem o percurso do discípulo. Os candidatos ficariam na escolinha um tempo suficiente para a experiência de vida comunitária. Os serviços e as despesas de alimentação seriam todos divididos de modo que todos aprendessem lavar, limpar, cozinhar e partilhar. <br /> A Palavra de Deus, a Eucaristia, a oração, a mística e a contemplação, ocupariam tempo privilegiado nesta escolinha. Todos (as) fariam exercícios diários de escuta e silêncio diante do mistério de Deus e de sua Palavra. A disciplina de relevância seria na especialidade de oração e doação da vida aos outros. <br /> Os doutores-testemunhas desta escolinha seriam em humildade, serviço, paciência, diálogo, mística, gratuidade e compromisso com os mais pobres. Os carreiristas que gostam de ocupar os primeiros lugares, os soberbos que gostam de se impor, os mesquinhos de coração, os acomodados, os narcisistas que vivem em função de si mesmos, os capitalistas que tem o seu tesouro no dinheiro e as estrelas que gostam de aplausos não seriam aprovados nesta escolinha. Por isso, não poderiam ser discípulo e em conseqüência não poderiam ser missionários (as). <br />A novidade desta escolhinha está na radicalidade das opções, no estilo de vida e numa formação sólida que prepare os missionários (as), pois “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para ser Reino de Deus”(Lc9,62). <br /><br /><br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Missionário em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-37935215469303345252010-08-18T12:35:00.000-07:002010-08-18T13:03:39.556-07:00A beleza da missão<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPbmynD0MBjBmJnsXKDSfT3CwMtsA90r1V18fSPR91HS-DMFr9XOTMmIyxLVSMIJqaaUMCy6XQl5hM3wZyhXxOu19_lhh8vXCxdpdIQOe5QzgHsv1AMgfTUotFnXU49fYdcO0ZogW2JRI/s1600/079.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPbmynD0MBjBmJnsXKDSfT3CwMtsA90r1V18fSPR91HS-DMFr9XOTMmIyxLVSMIJqaaUMCy6XQl5hM3wZyhXxOu19_lhh8vXCxdpdIQOe5QzgHsv1AMgfTUotFnXU49fYdcO0ZogW2JRI/s320/079.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5506842732356631826" /></a><br />Entre nós missionários sempre reafirmamos que a missão é um dom do Espírito dado a Igreja. É uma graça que nasceu com o mandado de Jesus, Ide! Aqueles que foram podem dizer pela experiência que há mais alegria em dar do que receber. Os missionários (as) além fronteiras não são heróis ou melhores do que outros por estarem em terras distantes, são na verdade privilegiados que gozam da beleza da missão. <br /> Na primeira quinzena de agosto estiveram conosco partilhando desta graça a visita de dom Jaime Kohl, Pe.Adilson Zílio e Silvane Agnolin do regional Sul III- Brasil. Visitaram comunidades e reuniram-se com os conselhos pastorais para ouvirem suas preocupações. Não faltaram pedidos para que se continue e amplie o projeto missionário enviando mais padres e leigos. <br /> Sem muitas palavras o povo nos disse nas celebrações que é preciso partilhar de nossa pobreza. No momento das ofertas, dezenas de mulheres vinham até o altar com danças trazendo suas tigelas transbordantes com produtos cultivados por elas mesmas. Nós que estávamos próximo ao altar, calamos diante da generosidade daquele povo. Deram com largueza de espírito de seu pouco. Esta intuição da gratuidade deveria impulsionar toda ação missionária da Igreja. “Dê cada um conforme decidir em seu coração, sem pesar ou constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria. Quem semeia pouco colherá também pouco e quem semeia com largueza também colherá com largueza”. Eram estas palavras daquela celebração debaixo do cajueiro. Era o último dia da visita e o Evangelho também nos questionou: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto” (Jo12, 24). <br /> Faz pensar. Se não dermos o passo de generosamente darmos de nossa pobreza corremos o risco de continuarmos grãos de trigo sem produzir nada. Tenho convicção a partir deste chão Africano que nossas dioceses do Sul Brasil não nasceram para serem grãos de trigo, pelo contrário, o Espírito as convoca a serem grãos que passam pelo processo de morte para produzirem frutos. <br /> Nossa Igreja do Brasil tem muito a agradecer pelos inúmeros missionários “fidei donum” que contribuíram e continuam contribuindo pelo testemunho e pela presença em lugares de fronteira entre os mais necessitados, sobretudo na Amazônia. Nossa hora já chegou de partilharmos com as dioceses mais pobres do mundo aquilo que de graça recebemos. <br /> Também agradeço com alegria os dezesseis anos de presença do Sul III aqui na diocese de Nampula, Moçambique. Na atual equipe de missionários (as) somos cinco pessoas, dois padres e três leigos que atendem duas grandes paróquias com 140 comunidades. No final deste ano voltam os três leigos e o Pe.Luis Cardalda também retorna a sua diocese de Goiás. Fico sozinho e entro num tempo de espera em Deus e confiança em Sua providência. <br /> Para concluir, permito-me partilhar que a poucos dias ouvi de um amigo padre do Sul do Brasil que tem vontade de se lançar na missão além fronteiras, mas lhe falta coragem. Jesus responderia: “Coragem, não tenhais medo”. Às vezes penso que no imaginário dos convidados pelo Senhor da messe, persiste uma idéia irreal de missão associada naquilo que temos que perder, deixar para trás ou morrer. As cruzes das malárias, das perdas, das saudades, das distâncias geográficas e culturais não se comparam com a beleza de estar aqui no meio deste povo, podendo partilhar um pouco de nossas vidas. <br />Agradeço de coração a visita que a equipe do Brasil nos fez, nos deixando animados pela convicção de que a missão é de Deus e por isso não faltarão pessoas generosas que acolherão o convite de partirem na descoberta da beleza da missão. <br /><br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Missionário em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-52975804737401693352010-04-22T04:43:00.000-07:002010-04-22T04:50:00.125-07:00Você tem fome de que?<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOCwCBMcfNT2H-Heg3lvcQykkXRcZMiedo1v8MdWQifdF8cNMjD7FavxJTPp7iS1ufOdtxd6kydX-IBxgRPiPpFziQRwnbTILdIlFpX-lYahLNfyJACJGIsLXkxaOmPdF-m7voPrxfOHY/s1600/visita+001.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOCwCBMcfNT2H-Heg3lvcQykkXRcZMiedo1v8MdWQifdF8cNMjD7FavxJTPp7iS1ufOdtxd6kydX-IBxgRPiPpFziQRwnbTILdIlFpX-lYahLNfyJACJGIsLXkxaOmPdF-m7voPrxfOHY/s320/visita+001.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5462927622276856162" /></a><br /><br /><br /> Neste mês de abril de 2010 a mídia internacional pautou assuntos da pedofilia e do caos aéreo. Sobre pedofilia li o texto do sociólogo Máximo Introvigne alisando o assunto como uma “hiperconstrução social” pensada pelos “empresários morais” que se ocupam em produzir pânicos morais. Eles não inventam um problema, o ponto de partida é sempre real, mas exageram suas dimensões estatísticas. O assunto do caos aéreo, aqui em Moçambique passou de longe. Das pessoas que convivemos ninguém fala nem de pedofilia e nem de caos aéreo. <br /> Aqui por onde andamos fala-se de fome e de comida. Aqui nos interiores, tempo de chuvas é tempo de fome. Uma refeição diária é realidade de muitas famílias camponesas. Tudo vira comida: Folhas de mandioca, cupins, sapos e ratos é alimento em muitas regiões. A vida gira ao redor da comida. Ter ou não ter o que comer diariamente é assunto central. É comum ver as crianças mastigando um pedaço de mandioca seca; é o café da manhã. Sempre tenho tentação de comparar com crianças que tem leite com chocolate e bolachas recheadas. <br /> As mulheres no encontro de formação paroquial me colocaram uma preocupação: “Porque não somos consideradas em nossa paróquia”. Comecei investigar com elas o que significa ser considerada. Falavam que nas festas não eram contadas na hora da comida. Os animadores na hora de fazerem listas daqueles (as) que irão comer, não as contaram, incluindo pessoas de outros ministérios. É assunto grave. Contar ou não contar para comida. Os animadores me responderam que às vezes não são contadas porque não há comida para todos. <br /> O Evangelho daquele dia tratava de comida. “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo6, 35). Comecei a pensar nas palavras das mulheres e das crianças que vivem a realidade da fome. Pensei em outras fomes e sedes que caracterizam a sociedade capitalista e consumista. O mercado estampa nos menus uma variedade de produtos que não saciam. Corremos atrás daquilo que promete realmente saciar. É uma frustração quando fizemos sacrifício para ter aquilo que pensamos saciar e no fundo não sacia. É algo insaciável. No campo afetivo quantas necessidades e buscas. Na vida das relações quanta sede de poder e promoção. Deus, realmente nos fez insaciáveis no âmbito fisiológico, psicológico e espiritual. Dizia Agostinho: “Meu coração está inquieto. Não descansa enquanto não repousar no Senhor”. <br /> De fato, as fomes e as sedes da humanidade poderiam ser assuntos relevantes na pauta dos “empresários morais”. Poderiam fazer algo de positivo. Falar de fome, suas conseqüências e possíveis respostas. Jesus tratou do assunto, mas não sei se já entendemos. “Quem vem a mim não terá mais fome”. No horizonte de nossos desejos, fomes e buscas, Ele está na lista? Damos tempo para ouvi-lo? A promessa é extraordinária: uma realidade que sacia plenamente. Não ter mais fome e nem sede é utópico num mundo paradoxal de fome e de consumo.<br />Quando se come deste pão o compromisso aumenta. É uma comida e uma bebida que aponta para utopias onde a lógica é outra. Nesta perspectiva nova, o tempo não significa dinheiro e sim acontecimento. Nas ruas de Moma onde vivemos a cena parece de outro mundo. Nas varandas das casas os pais, envolvidos de filhos desfrutam da vida sem fomes e sedes que produzem estresse. Pelo contrário os olharem e sorrisos que vemos são de pessoas saciadas que já descobriram a comida que dá sentido e saciam vidas. <br />Talvez nos falte este tipo de apetite eucarístico de ir até Aquele que sacia de sentido existencial mais profundo. As migalhas do mercado nos iludem e nos frustram num círculo vicioso. Que o Pai nos atraia ao encontro de Jesus o pão da vida, descido do céu. Amém. <br /><br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Missionário em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-23050519768848483532010-04-12T06:57:00.000-07:002010-04-12T07:29:29.021-07:00Nascer do alto<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgORsgXHzfwrSvz2wGpGdJ9JUPAn0SP7_qdknR6hoHg42b9lK9GsltBCdQq6TL0NjM7wB3-9gzUE1cZkI5tvmRyNr_xVO_fv1AwJtodigmSW5DAQx9bW2XuRG6V1FfdAOTb6g-G53a9TY/s1600/Pastor.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 179px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgORsgXHzfwrSvz2wGpGdJ9JUPAn0SP7_qdknR6hoHg42b9lK9GsltBCdQq6TL0NjM7wB3-9gzUE1cZkI5tvmRyNr_xVO_fv1AwJtodigmSW5DAQx9bW2XuRG6V1FfdAOTb6g-G53a9TY/s320/Pastor.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5459257945569293170" /></a><br />Pentecostes é a grande festa do Espírito. Convite para re-nascermos do alto. Nascer do alto é algo misterioso. Nicodemos já colocara a questão: “Como é que alguém pode nascer se já é velho? Poderá outra vez entrar no ventre de sua mãe?” (Jo3,4).<br /> Para nascer de novo é preciso respeitar o tempo de gestação no Espírito. Para gerar vida no Espírito, qual seria o tempo necessário? Difícil responder, pois a lógica que segue o Espírito é outra. O tempo de Deus é outro. <br /> Confesso que sempre tive a sede de nascer do alto. Ser um homem guiado pelo vento do Espírito e não pelos instintos da carne. Mas esta é uma luta desigual entre carne e espírito. Até hoje não compreendi bem o que significa nascer do alto, da água e do Espírito. Tenho a intuição que esta realidade começa lá dentro, no lugar mais escondido, no coração de cada pessoa. É lá que silenciosamente o Espírito atua, sem grandes barulhos de vozes ou ruídos que possam ser ouvidos. Parece estranho, nascer de novo, do alto e do Espírito. <br />Na noite de pentecostes de 2008, aconteceu algo estranho comigo ao ler uma das cartas do Pe.Fabiano Dalcin, missionário na Igreja irmã em Moçambique. Nela relatava sua experiência de missão e no final fazia um apelo: “Peço também, e é por isso que vos escrevo, que se unam às minhas orações para pedir ao Espírito Santo que ilumine a Igreja do Rio Grande do Sul e os bispos do regional sul 3, afim de que encontrem meios e pessoas de boa vontade para serem enviados como missionários e missionárias, de modo especial sacerdotes, para darem continuidade a este projeto missionário em Moçambique”(Pe.Fabiano, maio de 2008). Naquela noite relacionei este texto com outros apelos do Espírito. Entre eles o retiro pregado por dom Jaime Kohl, onde nos falava do projeto Igreja solidária com Moçambique. Neste retiro já sentira o apelo do Espírito em partir para missão, mas resisti pensando dar este passo mais tarde. Na mesma noite de Pentecostes decidi escrever ao Pe.Camilo Pauletti, missionário que já esteve seis anos em Moçambique. Relatei minhas inquietações dizendo-lhe também de sete motivos para não partir. Ele contudo, começa respondendo: “Bendito seja Deus, que nos provoca, chama e nos deixa inquietos. Você com este sopro do Espírito, faz a gente acreditar que o Senhor não abandona os mais pequenos”. <br />Já havia compreendido que para partir seria preciso o parto tão difícil e arriscado. Tomei coragem e fui conversar com Dom Dadeus Grings colocando estas inquietações. Simplesmente ele respondeu: “Quem somos nós para ir contra o Espírito Santo”. Desde aí não olhei mais para traz. O apelo que tanto inquietou tomou seu rumo e me fez atravessar o atlântico ao encontro do desconhecido. <br />Aquele pentecostes de 2008 foi de fato estranho. Começo acreditar que nada de bom acontece na Igreja e em nossas vidas que não nos seja dado do alto, do Espírito que nos foi concedido pelo Pai em comunhão com o Filho. O parto continua a cada pentecostes e a cada dia. É preciso sempre nascer do alto. Assim diz a epístola aos Romanos: “Nós sabemos que toda criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adoção filial e a libertação do nosso corpo” (Rm8, 22). <br />Comecei entender também que pentecostes é o dia do envio. Neste dia está a essência missionária da Igreja. Naquele dia Jesus reunido com seus discípulos diz: “Assim como o Pai me enviou, também eu envio. E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo” (Jo20,21-22).<br />Continuo suplicando que o Espírito suscite inquietações e apelos no coração da Igreja que nos envia. Estamos agradecidos também pelo apoio financeiro que nos mantém na missão de duas paróquias com 140 comunidades na diocese de Nampula. Somos uma equipe de cinco pessoas, dois padres e três leigos. Estamos confiantes que neste pentecostes o Espírito suscitará com sua força homens e mulheres que se deixem nascerem do alto e partirem onde o próprio Espírito os enviar. <br /><br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Missionário em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-61378174734519020472010-03-08T12:08:00.000-08:002010-03-08T12:21:20.292-08:00Missão sem fronteiras<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZiNmjacXeiSWIfy1Q6vJxW_Q1QhbxXOr3OlcDmXSrfIQeC1ecH40P40asZzoeXv45VrhdKjVQ7tPI455j4ii2Wk0PyZiDKMXBnSAMZqVS9xph3teDd5BrXQukkZRzAJNiCQYff0U-Sik/s1600-h/DSC01939.JPG"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZiNmjacXeiSWIfy1Q6vJxW_Q1QhbxXOr3OlcDmXSrfIQeC1ecH40P40asZzoeXv45VrhdKjVQ7tPI455j4ii2Wk0PyZiDKMXBnSAMZqVS9xph3teDd5BrXQukkZRzAJNiCQYff0U-Sik/s320/DSC01939.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5446360564865209858" /></a><br />Depois de mais de dez mil quilômetros e três dias em viagem, eu (Pe.Maurício), Tatiane (arquidiocese de Porto Alegre), Camila e Edenilson (diocese de Osório), chegamos ao aeroporto de Nampula, norte de Moçambique e fomos acolhidos pelo Pe.Luis, missionário espanhol que trabalhou 35 anos no Brasil. <br />Nossa primeira atividade tratou-se de colocar a casa em ordem, realizando faxinas, reformas e adaptações para a nova equipe do Regional Sul III que viverá na mesma casa e atuará nas paróquias de Micane e Larde, uma com noventa e nove comunidades e outra com quarenta e duas. <br />Moçambique, situa-se no sul da África e é banhado pelo oceano índico. Tem população aproximada de vinte milhões de habitantes. Teve história marcada pela colonização portuguesa e uma série de guerras, tanto do movimento de libertação, como pós-independência que se deu em 1975. O acordo de paz veio firmar-se em 1992. Desde então o país, embora “independente”, vive um processo de busca de autonomia econômica, social e política. <br />A educação é uma área que merece destaque para entender melhor a missão que os missionários leigos recém chegados irão atuar: O sistema educacional do país não favorece o ensino para todos. Poucos chegam à escola, chegando a quarenta por cento de analfabetismo. Há histórias de alunos relatando que para passarem de classe precisam oferecer algo ao professor. Um número reduzido chega concluir o ensino médio por falta de condições mínimas, como: dinheiro para matricula, casa para viver na sede do distrito onde há escola secundária, uniforme, cadernos, livros didáticos e outras condições que impedem de continuarem os estudos. <br />Deste modo a atuação específica dos missionários leigos será no campo da educação através de reforço escolar da oitava a décima segunda classe e também atividades recreativas e culturais. Outro trabalho que irão acompanhar é com um grupo de nove jovens vocacionados. Com eles será realizada formação complementar e acompanhamento pedagógico. <br />Além desta atuação teremos os desafios pastorais na formação de lideranças, sobretudo jovens e mulheres. Outro projeto que iremos acompanhar é o desenvolvimento de pequenas associações para gerar trabalho e renda que responda a grande problemática da fome. Nesta época do ano, muitos sobrevivem de uma alimentação diária baseada em folhas de mandioca. As crianças nos dizem que a fome os acompanha e não há perspectivas de mudança deste quadro de pobreza. <br />Também teremos oportunidade de visitas as comunidades do interior, onde no contato com a cultura mackua que é marcada pela festa, dança, simplicidade e alegria na acolhida. Todos olhares se revelam curiosos pela presença de um mukunha (branco) no meio deles. Ficamos em cada comunidade um dia completo, participando das partilhas, celebração eucarística e rodas de batuque a noite. O que sempre nos impressiona é o fato de um povo tão sofrido e marcado pela guerra e pobreza, se mantém na generosidade e na alegria de viver, expressa em sorrisos largos e gratuitos.<br />Sempre nos parece difícil expressar a riqueza desta experiência missionária. Pedimos sempre que nos acompanhe pela oração e compromisso com este projeto da Igreja do Rio Grande do Sul. <br /><br /><br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Missionário em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-68718028956794672562009-07-29T01:52:00.000-07:002009-07-29T02:06:02.852-07:00O grão de mostarda<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8R5VJ8IKmwXBMeDjkPnjfpkgMbgGj8PAS7D5s6p9xxEuPxv19AP8bPZCuPMO9IKB3BiuNW9v_rwHbHeZutNeComdEOMi2ybFC2hG5m-AV59Ms_2cy2-ArsZS2J1NBRCyShecNMD4NHAE/s1600-h/9+de+julho2009+054.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8R5VJ8IKmwXBMeDjkPnjfpkgMbgGj8PAS7D5s6p9xxEuPxv19AP8bPZCuPMO9IKB3BiuNW9v_rwHbHeZutNeComdEOMi2ybFC2hG5m-AV59Ms_2cy2-ArsZS2J1NBRCyShecNMD4NHAE/s320/9+de+julho2009+054.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5363805677018231362" /></a><br />Um amigo do Brasil perguntou-me porque deixei de escrever. Dei-me conta que nos primeiros meses, escrever era uma necessidade pessoal. Hoje, mais ambientado na cultura makhuwa, se torna um desafio expressar o que sinto e vivo após um ano que já estou na missão em Moçambique.<br /> Tenho me questionado: dizer o que para aqueles (as) que estão do outro lado do atlântico? Confesso que a tentação era expressar grandes coisas realizadas, curiosidades culturais ou os mega problemas sociais de miséria, descaso na educação e na saúde pública. Poderia também relatar o número impressionante de batismos, do acompanhamento ao projeto de construção de dez poços este ano, de iniciativas de auto-sustentabilidade, do sínodo africano ou da caminhada sinodal de cinco anos aqui na arquidiocese de Nampula.<br /> Nesta semana quando ouvi o texto de Mateus 13,31-32, comparando o Reino de Deus com o grão de mostarda, achei por bem falar e valorizar os pequenos gestos que silenciosamente fazem o reino acontecer. Acordei-me numa madrugada lembrando-me do chocolate, do feijão preto e do café que recebi de minha mãe no Brasil, dos telefonemas e mensagens dos amigos(as), das refeições com partilhas em nossa casa em Moma, dos momentos ao redor da fogueira para ouvir as novidades do povo, das visitas que chegam a nossa casa diariamente, das crianças que nos rodeiam e nos chamam de brancos com largos sorrisos e olhos brilhantes, do meio litro de sangue doado por uma visita da Itália a uma mulher com anemia profunda devido a situação de fome. Também penso nos pequenos gestos de partilha dos cristãos durante o momento do ofertório. Com danças trazem parte de sua produção de arroz, feijão, milho, amendoim, mandioca, galinhas e ofertam a equipe missionária. <br /> Assim se continuasse poderia relembrar uma infinidade de grãos de mostarda. Eles são tão pequenos e silenciosos que passam por nós despercebidos. De outro lado situa-se na cultura dominante a lógica do mega, do big, do extraordinário, das cifras, da eficácia, do lucro e do espetáculo que produz visibilidade, impacto e barulho. Me pergunto: onde se coloca o valor da pessoa nesta lógica? A criança, o pobre, o velho e o doente onde se situam? Consciente ou inconsciente quando colocamos esta lógica no primeiro plano, passamos facilmente por cima das pessoas e nos esquecemos do grão de mostarda ou da célebre frase de Jesus: “ Buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça e tudo vos será dado por acréscimo”(Mt6,33). <br /> Voltemos nosso olhar a Jesus que aponta o valor das pequenas coisas que se tornam grandes na lógica evangélica. “O grão de mostarda é a menor de todas as sementes, contudo quando cresce, torna-se uma árvore, vêm os pássaros e se aninham em seus ramos”(Mt13,32). Os preciosos grãos de mostarda são encontrados em espaços de intervalo da informalidade gratuita de nossas agendas lotadas. São nestes momentos aprazíveis de gratuidade que conseguimos ver o pequeno e perdido grão de mostarda que outrora estava sufocado pela tentação da visibilidade de projetos ou planos faraônicos que fazem barulho e produzem impacto.<br /> Hoje, na oração da manhã celebramos o dia de santa Marta, a ativa, preocupada e inquieta hospedeira que descobriu na visita de Jesus que o essencial da vida do discípulo é a escuta da palavra de Deus: “uma coisa é necessária”. O pequeno grão de mostarda estava passando despercebido na atitude de Marta em fazer grandes coisas. “Marta, Marta....” . Em África estou apreendendo com os pequenos que o importante não é fazer grandes coisas, mas pequenos gestos com grande amor. Será que não é paradoxal e esquizofrênica nossas posturas que sufocam os pequenos grãos de mostarda? Repito: “uma coisa é necessária e Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada” (Lc10, 42).<br /><br /><br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Missionário em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-71228137134831013602009-03-29T08:33:00.000-07:002009-03-29T08:55:44.466-07:00Morte e Vida<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCOK22r9ISb_PuuUQVvH81okaQaVea44CtzDNX_Qn4PxX5HGmTzEYjKf2lFM0_cqEf-125HnaN0icPi3N7ov3hbTQa3cfMZT0W3U_eA2-iERajbO5FVSjoH4uU9U5vMKXAz0p73RXwCws/s1600-h/Peregrina%C3%A7%C3%A3o+064.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCOK22r9ISb_PuuUQVvH81okaQaVea44CtzDNX_Qn4PxX5HGmTzEYjKf2lFM0_cqEf-125HnaN0icPi3N7ov3hbTQa3cfMZT0W3U_eA2-iERajbO5FVSjoH4uU9U5vMKXAz0p73RXwCws/s320/Peregrina%C3%A7%C3%A3o+064.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5318638900742193202" /></a><br /><br />Sete meses se passaram desde que atravessei o atlântico para me lançar na missão “ad gentes” e ancorar no mundo e na cultura africana até então por mim desconhecidos. Desta vez escrevo como aluno do curso de língua e cultura Mackua, oferecido pela arquidiocese de Nampula aos missionários estrangeiros. <br />Aqui é tempo de fortes chuvas e fome. No último final de semana uma comunidade teve que cancelar batismos de crianças por faltas de condições, noutra fiz 26 batizados sem clima de festa, pois não havia alimentos. No término da missa todos voltaram as suas casas. O normal era ficarem na comunidade para preparar o almoço. Escutei de muitas lideranças que neste tempo o povo alimenta-se somente de folhas de mandioca, esperando a colheita do milho que produz uma vez ao ano. Como carril (carne ou molho) encontra-se rãs, gafanhotos ou outros insetos. Ouvi também que uma mãe desesperada se matou por ver que acabara o alimento para seus filhos.<br />Como falar de morte, cruz, sofrimento, perdas, dor...sem perder a esperança na vida? Na páscoa de Jesus encontramos a resposta definitiva para este binômio morte e vida. Ele nos garantiu que a morte não tem a última palavra. Aqui predomina no povo cristão a motivação de continuar caminhando e lutando para que haja vida para todos. Alguns aqui me dizem que depois da dor da paixão vem a alegria da ressurreição. Esta dinâmica pascal realmente está misturada paradoxalmente na vida do povo Mackua. A luz do círio acesa em cada vigília pascal rompe definitivamente as forças da morte e da tristeza. Agem e vivem como vitoriosos, mesmo mergulhados na dor de crucificados pelo contexto social de pobreza absoluta. <br />Uma imagem do cotidiano, do norte de Moçambique, que expressa esta realidade de esperança escondida nas situações de morte, é o capim seco e queimado que guarda silenciosamente, durante meses, a vida que se manifesta depois das primeiras chuvas do mês de dezembro. <br />Neste quinto domingo da quaresma o evangelho nos recordou as palavras de Jesus: “Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto”(Jo12,24). Quem não apreendeu morrer passa sua vida girando em torno de si mesmo; ilude-se que a felicidade mora ao redor do seu umbigo. Nesta lógica pascal a sabedoria de viver bem se esconde na sabedoria de saber morrer.<br />Também tenho refletido sobre esta experiência pascal de Jesus acontecendo em minha caminhada de padre missionário “fidei donum”. Quando retomo meu projeto pessoal de vida tenho descoberto que sou convidado pelo mestre a renunciar planos pessoais em vista de um projeto maior. Este processo de morte e perdas se transformam em vida nova na perspectiva do seguimento de Jesus. O caminho do discípulo é na verdade o caminho da semelhança com mestre e Ele nos ensinou que não veio fazer a sua vontade, mas a vontade Daquele que o enviou. Esta é a medida do amor. <br />Uma boa notícia deste tempo pascal é que não estou mais sozinho em Moma. Voltou para arquidiocese de Nampula o Pe.Luiz Cardalga, padre diocesano da Espanha que atuou mais trinta anos na missão do Brasil. Tem 73 anos e já foi missionário aqui em Moçambique. Também estamos felizes com a chegada do leigo Antônio Daniel da cidade de Esteio, arquidiocese de Porto Alegre. Irá morar conosco em Moma e atuará na pastoral das duas paróquias que atendemos. Continuamos na certeza que o Espírito irá suscitar mais vocações missionárias do Rio Grande do Sul.<br />A todos e a todas saudações e desejo de que a Páscoa de Jesus, morto e ressuscitado, aconteça em nossas vidas e comunidades. <br /><br /><br /> Pe.Maurício da Silva Jardim<br /> Missionário em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-7164114811274581812009-01-19T13:28:00.000-08:002009-01-20T10:25:38.582-08:00Evangelizar a pé<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizwIQSTn4bjsw8ZOWe_DG1McjSHzNW-jE7CuLqKqpXGFtW8kPrZD08uTh5mFGYPP38-O6m3FeEMAGGLHYYCF38iX0LuwI_FEHLFG2hqw1vDxMEPDGtGdDjAflo4eGbypsOgOfRkhgx1cs/s1600-h/Peregrina%C3%A7%C3%A3o+119.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizwIQSTn4bjsw8ZOWe_DG1McjSHzNW-jE7CuLqKqpXGFtW8kPrZD08uTh5mFGYPP38-O6m3FeEMAGGLHYYCF38iX0LuwI_FEHLFG2hqw1vDxMEPDGtGdDjAflo4eGbypsOgOfRkhgx1cs/s320/Peregrina%C3%A7%C3%A3o+119.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293443542821902818" /></a><br />“Wetta ni Yesu orera” (Andar com Jesus é bom). Embalado por este refrão percorri a pé junto com cinco seminaristas mais de cem quilômetros numa peregrinação que durou quinze dias, visitando quinze comunidades. Saímos de Moma dia trinta de dezembro levando em nossas sacolas as recomendações de Jesus aos seus discípulos. “Nada leveis pelo caminho: nem cajado, nem alforje, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas”(Lc9,3).<br />Ao longo do caminho fomos contagiados pelo espírito de festa do povo. De uma comunidade a outra um grande número de pessoas nos acompanharam, a maioria jovens que percorriam cinco, dez ou quinze quilômetros, cantando e dançando pelas vias empoeiradas ao som de muito batuque. Mesmo enfrentando um forte calor, nada pode abafar a alegria expressa em cada rosto que encontramos.<br />A pergunta que mais ouvimos trazia um ar de admiração: “Porque andar a pé se o padre tem carro?” “O que houve com o carro? Está na oficina?”. Tentava dizer algo de minhas motivações pessoais, tais como: - Inspiração de Deus dentro do ano Paulino; ir ao encontro do povo e conhecer melhor a realidade. Partilhei com eles que a idéia nasceu numa ocasião quando passava de carro por aquela estrada e vendo tantas comunidades e pessoas a pé, carregando muitas coisas pesadas em suas cabeças, me perguntei: Porque não fazer a pé este caminho? <br />Fui pouco a pouco descobrindo que o fato de percorrer a pé estas quinze comunidades trazia consigo um forte conteúdo de Evangelização. No principio não imaginei que seria tão grande a repercussão desta escolha. Entendi ao longo do caminho que a iniciativa primeira era do Espírito de Deus e que cada um interpretaria de maneira diferente. Na comunidade de Maculane uma liderança expressou sua posição: “Não se faz evangelização somente de carro”. Um catequista disse que as longas distâncias não podem ser justificativa para se acomodar e ficar em casa esperando a solução cair do céu. <br />Aqui no chão africano muitas vezes tenho me perguntado o que é mesmo evangelizar. Sempre ouvi que a missão da Igreja é anunciar, pregar, servir, testemunhar, dialogar e formar. Neste caminho vive a forte experiência de evangelizar pela presença gratuita, com meios pobres e com poucas palavras. “Estar com”, visitar, ouvir, partilhar e celebrar a Eucaristia para um povo que fica mais de um ano sem missa, foi o próprio conteúdo pregação. <br />Neste caminho até Chalaua predomina um cenário de pobreza social. Ouvimos sempre preocupações sobre a fome, a falta de condições para o estudo da juventude e carência de atendimento médico e medicamentos. Como símbolo de exploração do povo, encontramos na contramão uma média de dez caminhões de Chineses que diariamente carregam toneladas de madeira. Algumas áreas de Moçambique já estão desérticas, fruto do desmatamento.<br />Um dos pontos fortes desta caminhada foi a visita aos doentes. Acompanhados pela comunidade chegamos à casa de quarenta e seis pessoas enfermas em estado grave, a maioria sem diagnóstico, sem atendimento ou remédios. Por isso, apelam para soluções da cultura e religião tradicional. Buscam ajuda no curandeiro e no advinha que receitam medicamentos de plantas naturais. Grande parte morre sem saber a “causa mortis”. Em algumas situações pensei que seria providente que neste caminho estivesse comigo um médico e uma autoridade política. Na maioria dos casos fiquei sem resposta ou encaminhamento diante desta realidade. <br />Nestes quinze dias de intensa vivência e convívio nas comunidades também aproveitei para rezar pedindo ao dono da messe que envie mais padres gaúchos, religiosos(as) e leigos(as) para este grande campo de missão. Sei do empenho dos bispos e responsáveis pelo setor missionário da CNBB que tem a tarefa de motivarem as dioceses do Regional Sul III para continuarmos no compromisso com nossa Igreja irmã de Moçambique. Desde o inicio de dezembro, com o retorno do padre Fabiano Dalcin ao Brasil, estou como padre sozinho para atender as duas paróquias com cento e quarenta comunidades. <br />Concluo com a expressão do papa PauloVI: “quem evangeliza, se evangeliza”. Neste caminho o povo nos evangelizou, pregando o evangelho da partilha, da acolhida, do despojamento, da fé comprometida, da sede de Deus na Eucaristia, da força da comunidade, da resistência no sofrimento e da alegria no Cristo ressuscitado. <br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Missionário em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-86615354442261376172008-12-29T06:59:00.000-08:002009-01-20T10:29:21.625-08:00Peregrinação missionária<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZbQ0S_FJi7EEcQWjMyj6E5IcyHn7CyTPhiJOKCCfYLLt-Il5f-mYwyeK4iOsgVW-_eOL73CrzNsmwPKhsaoE5T5z-TNWT2mw1fptlHjdCXC_QYdxHar1gk95c0hUvXOAV-ZC0O7nLdpk/s1600-h/Peregrina%C3%A7%C3%A3o+053.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZbQ0S_FJi7EEcQWjMyj6E5IcyHn7CyTPhiJOKCCfYLLt-Il5f-mYwyeK4iOsgVW-_eOL73CrzNsmwPKhsaoE5T5z-TNWT2mw1fptlHjdCXC_QYdxHar1gk95c0hUvXOAV-ZC0O7nLdpk/s320/Peregrina%C3%A7%C3%A3o+053.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293444694547053074" /></a><br />Terminada as celebrações natalinas onde tive a oportunidade de visitar em dez dias dez comunidades, volto para casa em preparação a uma peregrinação missionária de quinze dias, visitando quinze comunidades. Serão mais de oitenta quilômetros a pé, levando comigo o mínimo necessário, buscando aproximar-me da realidade do povo Macua.<br /> Irão comigo três seminaristas do seminário maior da arquidiocese de Nampula: Mateus, Otávio e Agostinho. São vocações de uma das paróquias que sou pároco. O seminário os envia para férias com uma carta, solicitando acompanhamento e avaliação dos serviços realizados em um mês na paróquia. <br /> A novidade desta peregrinação já se espalhou pela paróquia e muitos me perguntam: Padre porque ir a pé se o senhor tem carro? Tento dizer que foi uma inspiração do ano paulino. São Paulo caminhou muito a pé e não mediu esforços para comunicar a boa notícia de Jesus Cristo e seu Evangelho.<br /> Além da motivação do ano paulino e da vontade de conhecer as comunidades, fiz este programa de visitas porque já percebi a repercussão de uma visita do padre. É uma festa quando chega a equipe missionária, porque algumas comunidades ficam um, dois ou até cinco anos sem celebrar a eucaristia. O povo se organiza e todos os ministérios da comunidade são envolvidos. São momentos fortes de evangelização, partilha, novidades, dança e celebração da eucaristia que ocupa lugar central. <br /> O programa da peregrinação combinado com os anciãos, pastores da comunidade, é: visita as casas dos doentes, confissão, encontro com a juventude, celebração da eucaristia, escuta das preocupações e caminhada até a próxima comunidade. <br /> Serão quinze dias “sem” muitas necessidades que tenho: energia elétrica, rede telefônica, fogão a gás, colchão para dormir, sem chuveiro, xícara de café, garfos e facas para comer. No entanto, serão dias “com”: partilha, convivência, oração, deserto, festa e realização pessoal. É muito gratificante estar no meio deste povo, embora sem condições de “fazer” ou “produzir” algo, nem responder a todas preocupações e pedidos, contudo é uma oportunidade única de estar presente de forma gratuita compartilhando a mesma fé no Cristo morto e ressuscitado. Oportunamente irei compartilhar com vocês esta experiência.<br /> Desejo a todos que 2009 seja portador de uma vida renovada no mestre de Nazaré. Paz!<br /> <br /><br /><br /> Pe.Maurício da Silva Jardim<br /> Missionário em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-16538671934626430692008-12-16T11:03:00.000-08:002008-12-16T11:12:13.875-08:00Natal em Moçambique<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKD2LnwA76TiJ4fTdTs5obBCV6QysOevyB9Ks_rVSYG7G27AcsyELBlVzqA2yFxkOSUKSLzmubLOFwIeWnlRDUvTAprVrWabQwdAq4xQIYJ8BCYEUMzywYcgFU9BKQSL_OWxwDVQOs488/s1600-h/Metil-Natomoto+010.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKD2LnwA76TiJ4fTdTs5obBCV6QysOevyB9Ks_rVSYG7G27AcsyELBlVzqA2yFxkOSUKSLzmubLOFwIeWnlRDUvTAprVrWabQwdAq4xQIYJ8BCYEUMzywYcgFU9BKQSL_OWxwDVQOs488/s320/Metil-Natomoto+010.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5280467534274088818" /></a><br /><br /><br /><br /> Nesta noite natalina, escrevo inspirado pelo meu encontro com as pobres crianças africanas. Elas me questionam pelo seu modo de vida simples, sofrida e resistente. Não escolheram a pobreza como virtude evangélica, mas porque são de fato pobres. Desde muito cedo, aprenderam buscar água a longas distâncias, ir para roça cultivar mandioca, vender mangas ou pequenas castanhas. São despojadas no falar, no comer e no vestir. Chama atenção que apesar do sofrimento não poupam largos sorrisos. Em toda parte as vejo com olhares curiosos esperando uma palavra ou gesto que se transforma em festa. <br /> Motivado por estas crianças escrevo com o desejo de que nossos corações, nesta noite santa, se voltem para a pobre gruta de Belém para contemplar o mistério do menino recém nascido. Nele, Deus despojou-se e desceu ao nosso encontro para nos ensinar que o caminho da felicidade autêntica e verdadeira passa pelo mistério da Encarnação. Neste dias tenho refletido que para perceber o real sentido desta noite feliz é necessário também despojar-se e descer ao encontro das pessoas, sobretudo as mais pobres e necessitadas.<br /> Certamente, passarei um Natal diferente dos demais. Em nossa mesa não teremos as especialidades que costuma degustar. Será uma noite sem luzes, músicas e fogos de artifício. Não terei comigo os amigos(as) e familiares que amo. No entanto restará o silêncio da noite que me possibilitará ouvir o cântico dos anjos entoando: “Glória a Deus nas alturas e Paz na terra aos Homens de boa vontade”.<br /> Sempre nas rezas peço para que toda a Igreja seja missionária no lugar onde está situada. Carrego vivo a expressão do documento de Aparecida: “É preciso sair de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária”. Nada de ficar preso as estruturas que impedem de ir ao encontro das pessoas. Sejamos livres para a missão. Para isso precisamos a cada dia viver a graça da “conversão pastoral”. <br /> Gostaria que nesta noite pudéssemos estar celebrando juntos. Como isto não será possível, estaremos em comunhão no mesmo sentimento para escutar os pastores dizendo: “Eis que vos anuncio uma grande alegria que será para todo o povo, nasceu para nós o Salvador que é o Cristo Senhor”. <br /><br /><br />Feliz Natal!<br /><br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Missionário em MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-82066375813476267832008-12-15T10:38:00.000-08:002008-12-15T10:45:51.435-08:00A alegria que vem do sofrimento<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_ZmNoOXOmfBHORODeeNSV6PQK9v4fE0qf6FkVU3inlUB2quLX-TxwGBbrVarkIQCUDdDYfX9iiGm8rD_xLYGoFDJr8yNNoIOUgsVXhTl1rNCBT28y1ZpGffEOdcXasxOIkD_I-jIXgbw/s1600-h/chocas+026.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_ZmNoOXOmfBHORODeeNSV6PQK9v4fE0qf6FkVU3inlUB2quLX-TxwGBbrVarkIQCUDdDYfX9iiGm8rD_xLYGoFDJr8yNNoIOUgsVXhTl1rNCBT28y1ZpGffEOdcXasxOIkD_I-jIXgbw/s320/chocas+026.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5280089928436480066" /></a><br /><br />Na vida cotidiana do povo Moçambicano há uma mistura paradoxal de alegria e sofrimento. É um povo que sofre pela falta de necessidades básicas de alimentação, água potável e atendimento na área da saúde. Caminham longas distâncias de até 50Km em busca de atendimento médico, e na maioria das vezes voltam para casa sem solução. Muitos ainda se deslocam 15Km em busca de água. As lideranças da paróquia percorrem de bicicleta mais de 20Km para uma reunião do conselho paroquial. No entanto não poupam largos sorrisos, olhares serenos e fé confiante para continuidade da missão. Alegria e sofrimento são duas realidades aparentemente contraditórias que caminham juntas e na perspectiva da fé cristã assumem dimensão de ressurreição.<br />Tenho me lembrado muito de São Paulo aqui neste contexto. Na perseguição, prisão e sofrimento ao invés de escrever uma carta cheia de amargura, convoca a comunidade de Filipenses a alegria: “Alegrai-vos no Senhor! Repito: alegrai-vos!”(Fl,4,4). Inspirado por este grande apóstolo farei uma peregrinação missionária a pé de 80Km, visitando e celebrando em quinze comunidades. Saio de Moma, onde resido, no dia 30 de dezembro e chego em Chalaua no dia 14 de janeiro. Comigo irão três seminaristas da filosofia e teologia de nossa paróquia. Certamente passarei um ano novo diferente dos demais, não menos feliz por acreditar que estou cumprindo uma missão que recebi de Deus. <br />Pastoralmente ainda estamos celebrando batismos de crianças com visitas nas comunidades. Encontrei a poucos dias uma comunidade que a seis anos não celebrava a Eucaristia, isto num universo de 140 comunidades nas duas paróquias. Na hora de fazer o programa no conselho pastoral nos vemos limitados por não conseguir atender as reais necessidades e pedidos de visita do padre as comunidades. Ficam esperando para que este dia se concretize. É muito desafiador e ao mesmo tempo realizador ser padre neste ambiente de missão. Não há espaço para perder tempo ou ocupar-se com desvios do ministério. <br />A volta do Pe.Fabiano ao Brasil depois de uma missão bem cumprida, faz com que pessoalmente comece um tempo de deserto e espera de outro padre gáucho para compartilhar esta missão. Sei dos esforços que os bispos e toda Igreja do Rio Grande do Sul estão fazendo para que este compromisso missionário continue além fronteiras. O povo daqui continua rezando pedindo que o Espírito Santo convoque mais missionários.<br />Desejo a todos(as) que neste Natal nossos corações se voltem para o mistério escondido na pobre gruta de Belém, onde Deus despojou-se e veio ao nosso encontro para nos comunicar que o caminho da felicidade autêntica e verdadeira passa pelo mistério da encarnação. Gostaria de tê-los celebrando comigo de uma forma muito simples, como isto não será possível estaremos em comunhão para ouvir, de lugares tão distantes, a voz dos pastores dizendo: “Eis que vos anuncio uma grande alegria que será para todo povo, nasceu para nós o Salvador que é o Cristo Senhor”. Muita Paz e alegria na missão que o Espírito nos confiou.<br /><br /><br /><br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Missionário na Igreja irmã de MoçambiquePe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-58758005070120616472008-10-26T11:16:00.000-07:002008-12-15T11:01:20.670-08:00Comunicar-se è preciso....<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8nt5by3-k2KXlxybSKKXzEZiQC9xVZjgOHIDx5fWfY39vwpXmmv5xjyqfFWoNKJ5gE4wVmQBBitr5EsxV9fbOjWtfM-pjskmn89P5tve5Ue4ER9lj8mFWbsr0NnZH_CrXSoHK56hcjR4/s1600-h/Calumua+e+Murirya+114.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8nt5by3-k2KXlxybSKKXzEZiQC9xVZjgOHIDx5fWfY39vwpXmmv5xjyqfFWoNKJ5gE4wVmQBBitr5EsxV9fbOjWtfM-pjskmn89P5tve5Ue4ER9lj8mFWbsr0NnZH_CrXSoHK56hcjR4/s320/Calumua+e+Murirya+114.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5280093168518548642" /></a><br />Curioso, como sou, vou aos poucos descobrindo o universo juvenil moçambicano. Partilho com vocês minha participação num encontro paroquial da Pastoral da Juventude com jovens coordenadores dos grupos das comunidades. Para conhecer um pouco de sua realidade, dividi-os em pequenos grupos com a seguinte questão: O que o jovem pensa, vê, ouve, cheira, fala, faz, sente e por onde anda? <br />Com olhar sereno, jeito tímido e voz suave disseram que o jovem do norte de Moçambique pensa em prolongar sua vida juvenil e continuar no grupo. Eles vêem jovens sem estudar e sem participar da comunidade. Ouvem coisas boas e ruins, cheiram a novidade da Palavra de Deus. Falam da falta de livros, da preocupação com a salvação e de não se casarem catolicamente. Fazem adultérios, divórcio e caridade. Sentem dificuldades de acesso a escola, de perseverança na comunidade e andam por caminhos de tentações.<br />É complexo definir o que é juventude neste país de rosto jovem com sessenta por cento da população com menos de vinte cinco anos de idade. Aqui crianças e adultos, na minha visão, participam dos encontros de jovens. Identificam-se como jovens, embora já com filhos e com vida independente. <br />Andam em grupos, procuram trabalho e lazer. Encontro-os indo para escola, a mesquita, a Igreja e caminhando pelas ruas empoeiradas. Paro nas esquinas para criar comunicação, ouvindo suas dúvidas sobre o mundo da América Latina que apenas ouviram falar. Gostam de futebol, mas não conseguem comprar uma bola. Estão desconectados das informações do que acontece no mundo e na política local. <br />Embora a problemática de acesso ao ensino de qualidade, ao sistema de saúde falido, a contaminação do vírus HIV, o desemprego, não lhes falta comunicação pessoal e a alegria expressa em largos sorrisos. Valorizam a simples presença. Falam pouco e observam muito. Escondem uma sabedoria na relação com o tempo. Vivem longe da lógica de que “tempo é dinheiro”. O tempo está a serviço da vida e da felicidade. São donos do tempo. Passam horas partilhando vidas e contemplando o mundo ao redor. Comunicam sem palavras que crêem em Deus, comunidade de amor.<br />Antes de sair do Brasil alimentei-me da novidade dita no documento Evangelização da Juventude: “É preciso aprender a ler, na juventude, as sementes ocultas do Verbo (nº. 80), aprendendo a ver um Deus que é real dentro do jovem no seu modo juvenil de ser, isto é, considerar o jovem como lugar teológico, considerando que Deus nos fala pelo jovem (nº. 81)”. Estas reflexões ficaram vivas no coração. Lembro disso e também aplico no meu encontro com a juventude africana. Sempre repito em voz baixa: Eles são uma realidade teológica que é preciso apreender a ler e desvelar. Este novo olhar tem me ajudado a criar comunicação e superar pré-conceitos do meu imaginário juvenil. <br />Estou em comunhão com todos(as) que estão celebrando o Dia Nacional da Juventude. Aqui em terras africanas sinto-me entrando no túnel do tempo, longe do mundo das comunicações virtuais. Aqui ainda se pauta a necessidade de construir latrinas e casas de banho no centro de formação paroquial. Outra novidade é o curso de datilografia que quatro lideranças da paróquia estão fazendo. A comunicação é sempre pessoal e talvez seja ainda a forma mais eficaz de criar verdadeiras relações. <br />Na verdade, tenho pouco a dizer. Proponho-me a escutar mais para desvelar este mistério de Deus que se esconde na juventude no seu modo de ser, agir e comunicar-se.Pe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-90729700082315761782008-10-01T08:38:00.001-07:002008-10-01T08:43:00.201-07:00Ainda não descobri minha missão em Moçambique...Quarenta dias se passaram desde que cheguei na África e ao chegar o mês missionário encontro na liturgia a inspiradora figura de Santa Teresa do menino Jesus. Seu caminho espiritual carregava a pergunta: “Qual minha vocação na Igreja?”. Lendo os escritos paulinos, ela se deparou com a primeira carta aos Coríntios (capítulo XII e XIII), onde percebeu que nem todos podem ser ao mesmo tempo apóstolos, profetas, doutores, etc..., que a Igreja é formada por membros diferentes e que os olhos não podem ao mesmo tempo ser as mãos.<br /> Meus sentimentos nestes dias trazem a mesma questão. Qual minha missão em Moçambique? Das primeiras vivências permito-me levantar alguns questionamentos: <br />Quando visito as comunidades e me encontro com as crianças e jovens, tenho a impressão de que minha primeira missão é ser presença gratuita. Não dizer muito, simplesmente ser presença. Visitá-los, ouvi-los, ousar conhecer um pouco de sua cultura, responder suas curiosidades, entrar em suas casas e sentar-se ao chão para uma refeição.<br />Quando me dou conta da seriedade do itinerário catequético das comunidades. Quatro anos de iniciação cristã. Vejo a necessidade e espera pelos sacramentos do batismo, eucaristia, reconciliação e matrimônio. Os batismos chegam a dois mil em apenas um ano nas duas paróquias que atendemos. Aí percebo minha missão sacerdotal de celebrar os sacramentos e proclamar a Palavra de Deus.<br />Quando vejo e ouço sobre a falta de água e comida em tempo de seca, penso na missão necessária de apoiar e acompanhar os projetos de construção de poços, cisternas e dos barcos para pesca. São oito poços construídos a cada ano em nossas comunidades e como experiência piloto há duas cisternas e dois barcos de pesca em funcionamento.<br />Quando estou em nossa casa em Moma, vivo a experiência de descer até Nazaré e viver o cotidiano entre os visinhos do distrito de mais de quarenta mil habitantes. Aqui minha missão é mais oculta, não menos necessária. É neste espaço que permito-me refletir, ler e escrever, claro sem deixar de varrer o chão, lavar roupa e cozinhar.<br />Santa Teresa, na sua busca vocacional descobriu enfim sua missão: “No coração da Igreja eu serei o amor”. Penso fundamental esta iluminação. Nossas atividades pastorais precisam ter coração, não só cabeça. Os encontros se dão com pessoas e não com idéias e projetos. Aí começo intuir um pouco de minha missão. Mas confesso que nesses primeiros quarenta dias tenho a tentação de dar respostas e de resolver meus questionamentos. Aí surgem exemplos do meio do povo que pregam o evangelho sem usar palavras. Suas vidas falam do caminho do despojamento, da gratuidade e dos valores do Reino de Deus. Impressionou-me no último final de semana três crianças de nove ou dez anos que caminharam quinze quilômetros para participarem dos sacramentos em outra comunidade. Chegaram as 8h na Igreja para celebrarem a eucaristia. Depois do almoço, o Amissi José, o Gildo e a Gilda voltaram conosco porque também em sua comunidade chegara o dia prometido de visita da equipe missionária.<br />Nos caminhos longos que percorremos pelas estradas de chão cheias de buraco é que me vem estes sentimentos. Estes últimos quarenta dias me fizeram muito bem e talvez sejam os mais intensos do meu caminho percorrido. Tiveram gosto de um retiro prolongado e inquietante sobre minha nova missão. Deus continue me conduzindo por caminhos de abertura missionária onde o evangelizador se deixe evangelizar. <br /><br />Pe.Maurício Jardim – 1 de outubro de 2008.<br />Missionário em Moçambique - ÁfricaPe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-43232128738195531082008-09-16T10:40:00.000-07:002008-09-16T10:54:43.668-07:00Caminhos da missão....<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDCUVe_cYOsAbYXZOVNl6pXyQZ1_tp_7R8ZuRuO70WJoi7fUCDRl9jd02LyALs4QaqoTfP42VWfy-NTKemPbHRweT-_6XmnQInvOnY1jXjkHfI3SW39CX0v5djPCCndWApYROa6TFtjNQ/s1600-h/Calumua+e+Murirya+003.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDCUVe_cYOsAbYXZOVNl6pXyQZ1_tp_7R8ZuRuO70WJoi7fUCDRl9jd02LyALs4QaqoTfP42VWfy-NTKemPbHRweT-_6XmnQInvOnY1jXjkHfI3SW39CX0v5djPCCndWApYROa6TFtjNQ/s320/Calumua+e+Murirya+003.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5246677589918523650" /></a><br />Caminhos da missão em Moçambique<br /><br />Um mês já se passou na missão em mossa Igreja irmã de Moçambique. Escrever em meio a tantas experiências é fácil e complexo. Fácil porque tenho necessidade de relatar tantas novidades, complexo porque é arriscado em tão pouco tempo traduzir em palavras o que vejo, ouço e sinto. Fico também imaginando no que pensarão os leitores destas cartas. Quais seriam suas dúvidas? O que diriam se estivem aqui? <br />Na conversa com o arcebispo de Nampula, Dom Tomé, fiquei impressionado com o cenário de atendimento às paróquias. Das quarenta e duas, quinze estão sem padre, algumas a mais de dez anos. Aqui as paróquias são realmente grandes em número de comunidades e distâncias. Claro que o cenário é outro e também os desafios pastorais são distintos dos nossos no sul do Brasil.<br />Eu e o padre Fabiano, atendemos duas paróquias com cento e quarenta comunidades. Gostaria de apresentar alguns dados para compreenderem esta realidade. Só na paróquia de Micane que atendemos existem quatorze mil cristãos, o que representa seis por cento da população. Os demais são praticamente todos mulçumanos e de outras igrejas evangélicas. O nome cristão aqui significa e se identifica com o batismo e participação na comunidade através dos ministérios e partilha no dizimo. Todos os cristãos são dizimistas e participantes das celebrações. Aqui não há o termo católico não praticante, todos católicos praticam a sua fé. Nesta paróquia só nestes últimos oito meses o Pe.Fabiano realizou mil batismos. Sendo setenta por cento de adultos néo convertidos que participaram quatro anos da catequese de iniciação cristã. No distrito de Moma onde residimos a média de cristãos cai para dois e meio por cento. Há mesquistas em toda parte, havendo boa convivência entre as religiões.<br />Na sombra das mangueiras, celebramos os sacramentos e temos momentos de intensa convivência. São visitas preparadas e esperadas a longo tempo. Na chegada da equipe missionária a comunidade entoa: “Chegou o dia prometido”. Preparam tudo em clima de festa. Oferecem o que tem de melhor. As famílias trazem seus alimentos para serem preparados e partilhados. É bonito de ver a partilha acontecendo. Ao redor do mesmo prato de karacata preparado a base mandioca seca, estão crianças, jovens e adultos. A chegada dos missionários é sempre na véspera dos sacramentos. Há pouco tempo para conviver, contudo muito intenso. Quando saímos, não sabemos quando será a próxima visita. Talvez depois de um ano ou mais. <br />Nestas visitas me marcam de forma particular a maneira com que somos esperados e visados. Todos os olhos, desde a criança até idosos, estão fixos em nós. É uma espécie de fato que se torna acontecimento. Qualquer gesto, palavra ou mesmo fotografia que registramos tornam-se evento único que desperta naquela multidão um mistura de curiosidade e alegria pela visita tão diferente. Algumas crianças correm de medo e choram pela presença de um branco na comunidade, mucunha como costumam chamar. Dedico muito tempo em inventar brincadeiras e tentar qualquer tipo de comunicação com eles, já que não falo a língua Makua. Ao se verem nas fotos ficam perplexos. É algo inexplicável a repercussão de nossas visitas. Sentem-se reconhecidos pela nossa simples presença. Lá não chegam autoridades civis, enfermeiros ou médicos. As curtas estradas que cortam as roças costumam só passar o carro da equipe missionária. <br />Daqui de nossa pobre Igreja irmã, dirijo meu apelo a Igreja do Rio Grande do Sul que pense, neste tempo de despertar da consciência missionária, no envio de novos missionários e missionárias, leigos(as), religiosos (as) de modo particular presbíteros que ousam percorrer caminhos da radicalidade evangélica.Pe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-26299398217149178682008-08-28T09:39:00.001-07:002008-09-16T11:06:56.845-07:00Descer é preciso...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJPp9SSj1s_Qg3HHKcaUD1waRQEMuBJ4vxE2_FpTY7Don1WJSjeXztgIErpwDEV6mFizWebuJktUo-p72sSugxfW4GJ6ZCuXBGiV7_BAY-ppXIOfWYdYSKie-9N_xaHID2LEYU27eYeJs/s1600-h/Metil-Maniquela+015.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJPp9SSj1s_Qg3HHKcaUD1waRQEMuBJ4vxE2_FpTY7Don1WJSjeXztgIErpwDEV6mFizWebuJktUo-p72sSugxfW4GJ6ZCuXBGiV7_BAY-ppXIOfWYdYSKie-9N_xaHID2LEYU27eYeJs/s320/Metil-Maniquela+015.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5246682154356877858" /></a><br />Ao norte de Moçambique e no litoral sul da província (arquidiocese) de Nampula, cidade de Moma, está nossa moradia. Estamos rodeados de visinhos que nos ajudam contemplar o mistério da encarnação. Escuta-se uma mistura de sons já no amanhecer às 5h. São vozes de todo lado na língua Macua, choro de crianças, cânticos dos mulçumanos vindo das mesquitas e estranhos ruídos de corvos que sobrevoam a vila de Moma, contribuindo com a limpeza, pois aqui não há lixeiras e nenhum tipo de sistema de saneamento básico. Doutro lado, não ouvimos sons de TV, telefone paroquial e circulação na secretaria. Nossa casa não se vincula a uma igreja ou secretaria. Nela não há água encanada, mas temos a graça de um poço em nosso terreno e desde julho energia elétrica. <br />Quando eu e Pe.Fabiano Dalcin estamos em casa, aproveitamos o tempo para como em Nazaré lavar roupas, fazer compras, cuidar da horta, faxinar, rezar, andar pelas ruas, tomar chimarrão, partilhar e programar nossas atividades nas duas paróquias de Micane e Larde que possuem aproximadamente cento e quarenta comunidades. <br />Participando do conselho pastoral paroquial de Micane que tem noventa e seis comunidades, percebi que tenho novas e distintas inquietações pastorais. De fato, é outro mundo e outra experiência de Igreja. O conselho é composto de quatorze animadores zonais e oito animadores paroquiais dos projetos permanentes. Ficam reunidos um dia meio a cada três meses. Cada membro do conselho, todos homens, prestam contas de suas atividades através de relatórios que registram as alegrias e angústias do povo. No conselho fizemos a programação dos sacramentos para setembro e outubro que irei junto com o Pe. Fabiano para conhecer as comunidades e aprender a celebração em Macua. As visitas são acompanhadas de convívio com o povo, formação, sacramentos da iniciação cristã e matrimônios. <br />Na carta de acolhida lida pelo animador paroquial o povo manifestou a alegria de terem mais um padre brasileiro da igreja irmã do Rio Grande do Sul. Lembraram da visita de Dom Jaime Kohl que os deixou animados na promessa de mais padres missionários nos próximos anos. O sonho e promessa estavam se concretizando, por isto o clima era de festa e gratidão a Igreja de Porto Alegre e do Regional Sul III.<br />Das primeiras impressões do povo Macua arrisco afirmar que são místicos, pacíficos e contemplativos no seu olhar, paciência, silêncio e simplicidade no vestir, comer, falar e se expressar. Ainda é muito cedo para fazer uma leitura e reflexão mais profunda, mas já tenho a intuição de que ser missionário é uma graça muito especial de Deus que nos permite a experiência do esvaziamento de tudo o que não é Deus e de sua proposta de vida. É verdadeira a afirmação de quem evangeliza, se evangeliza. Aqui carrego este sentimento que é preciso deixar-se evangelizar e re-aprender com este povo e cultura os valores vividos pelo único mestre, Jesus de Nazaré.<br />Agradeço à Igreja de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul a graça de descer até os confins do mundo, nas paróquias de Larde e Micane, em tempos do II Sínodo para África e de Aparecida que nos convocam a sermos discípulos e missionários de Jesus Cristo para que Nele todos os povos tenham vida.<br /><br />Pe.Maurício da Silva Jardim<br />Missionário na ÁfricaPe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-47914616544305472042008-08-21T04:16:00.000-07:002008-08-21T04:20:59.247-07:00Primeiras impressoes de MocambiquePrimeiras impressões<br /><br />Depois de dez mil quilômetros percorridos, de Porto Alegre a Nampula (Moçambique), ainda não cheguei ao destino da missão que é o distrito de Moma. No domingo após celebração de preparação ao sínodo da África na catedral de Nampula, vou com o Pe.Fabiano Dalcin, companheiro missionário de Vacaria-RS a sede da missão.<br />Gostaria de simplesmente expressar os primeiros sentimentos ao chegar nesta terra do continente africano onde o Espírito de Deus me conduziu:<br />1)As primeiras impressões são de um turista que ficou um dia na capital Moçambicana, Maputo. Caminhei, levando a máquina fotográfica, pelas ruas da cidade com o seminarista Mateus da paróquia de Moma. Logo de chegada vi na capital os gritantes contrastes sociais, como no Brasil. Ao lado das mansões, a beira mar, guardadas por sentinelas, vi moradores de rua e grande parte da população a margem no comércio informal que ocupa boa parte do centro. O pôr do sol no oceano índico se deu as 17h30, sem dúvida o mais belo que já observei. Nas ruas de Maputo, vi um povo jovem e feliz que caminha muito. Entrei no mercado público e vi a feira. A impressão é de que estava em Manaus no Brasil. Os produtos e a organização eram muito semelhantes. <br />Chamou-me atenção que o volante dos carros, está do lado direito e a preferencial nas ruas é do lado esquerdo. Para andar nas ruas e dirigir preciso de um tempo para converter meus paradigmas, pensei um pouco nisto ligado com o serviço missionário.<br />O almoço, no único seminário de Teologia do país que tem doze dioceses, me senti o diferente no meio de setenta seminaristas, sete padres e um bispo, todos negros. Pois é, o pais tem apenas um seminário maior, para doze diocesese.<br />2) Já de chegada, ou melhor ainda no avião, percebi um ar de missão que aqui se respira. Encontrei o Pe. Janivaldo, missionário Claretiano, que voltava das férias no Brasil, junto com a Ir.Clara de um instituto secular de São Paulo. Também encontrei dois padres italianos que são missionários desde o inicio de seu ministério aqui na igreja pobre de Moçambique.<br />3)Também é muito forte o espírito de acolhida deste povo. Já no vôo de São Paulo a Johannesburg conheci duas senhoras moçambicanas de Maputo. A Filomena e a Lúcia que me falaram muito bem do país e disseram que vou ficar mais tempo do que me proponho. O idioma de fato ajuda muito nestes primeiros contatos, embora exija esforço, devido a pronúncia de Portugal e os verbos sempre no infinitivo, sem gerúndio. <br />No seminário Pio X, onde fiquei hospedado no primeiro dia de trânsito para Nampula, recebi a visita da Eusébia, irmã do Pe.Benvindo que está no Rio Grande do Sul, estudando. Ela seu marido me convidaram para jantar em sua casa com seu três filhos. Me senti realmente em casa, depois do gesto da acolhida de uma jovem que trazia uma bacia com água para lavar as mãos antes de tomar a refeição. Também fui acolhido por uma criança sorridente que não saia do meu colo. Chegou a chorar quando tive que sair de sua casa. Não sabia que outra janta me esperava na casa da tia do PE. Benvindo. Recusar sentar a mesa para partilhar, seria uma ofensa.<br />Chegando em Nampula, fui acolhido no aeroporto pelo Pe.Fabiano e Ir.Lurdes. <br />Estou chegando aos poucos e conversando muito com o Pe.Fabiano, penso que iremos ser bons amigos nesta missão gaúcha. Já começamos sonhar sobre organização de nossa moradia e sobre divisão de trabalhos pastorais. Assumiremos juntos duas paróquias com 130 comunidades, tudo isto com apenas um carro a disposição.<br />Já visitamos casas da irmãs do Imaculado Coração de Maria, de Santa Paulina e de Jesus crucificado, todas muito identificadas com o povo e culta moçambicana.<br />Estou feliz e confiante nestas primeiras horas em um novo mundo. <br />Cada dia terá suas alegrias, ocupações, desafios e saudades de todos amigos e amigas do Brasil e da Alemanha.Pe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-64356167467853194852008-07-31T18:58:00.000-07:002008-07-31T19:11:20.985-07:00Missão em Moçambique<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtHIS9LzyjJXHvRRB4s5jw3Z3QIjZr_t4Z8SxlnGet8RS54g03PEkhVVJvDxb3MJLAROsqfIImEExwl-oiroEpniPMIKrROVWOdqw_V9LRyMR6LRBc29og-jJvQpKiRLuS2sbzeWrr9jg/s1600-h/Mo%C3%A7ambique.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtHIS9LzyjJXHvRRB4s5jw3Z3QIjZr_t4Z8SxlnGet8RS54g03PEkhVVJvDxb3MJLAROsqfIImEExwl-oiroEpniPMIKrROVWOdqw_V9LRyMR6LRBc29og-jJvQpKiRLuS2sbzeWrr9jg/s400/Mo%C3%A7ambique.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5229365972604268146" /></a><br />O projeto missionário de Moçambique existe há quinze anos como compromisso da Igreja do Rio Grande do Sul. A missão localiza-se na arquidiocese de Nampula, nas paróquias de Larde e Micane, distrito de Moma, com cento e trinta comunidades. A realidade deste país grita por solidariedade. Como nos diz os missionários Pe. Camilo e Fabiano: “Um povo que vive abandonado, quase sem médicos, dentistas, agrônomos, poucos professores e enfermeiros. São raros os locais de energia e telefone. As estradas e os transportes são precários. A média de vida é quarenta anos. Mais de sessenta por cento da população analfabeta e mais de cinqüenta por cento da população é portadora do vírus HIV”(Livro Partilhas da África, Paulos).<br />Bendito seja o Espírito de Deus que colocou em meu coração a inquietação de partir para esta terra de missão. Aprendi que a missão começa com presença e compaixão. Exige deslocamento e partida. É a graça da conversão de ir ao encontro, de sair de si, desinstalar-se do comodismo e colocar-se a serviço dos que estão à margem dos “grandes progressos”.<br />Pensei e rezei muito antes de tomar esta radical decisão missionária. Alguns me questionaram: Por que tão longe? Aqui também não é terra de missão? Claro que aqui é terra de missão, também com grandes desafios para todo povo de Deus. Não é por falta de necessidade ou de trabalho pastoral que estou partindo. Mas simplesmente porque tem lugares mais necessitados de presença e compaixão de um pastor. <br />Neste dias que antecedem a partida, tenho feito uma leitura de inspiração Bíblica-espiritual e descobri no contexto de minhas experiências de família, fé e Igreja, uma força do Espírito de Deus que foi desde cedo me preparando. É algo a ver com identidade. Somos missionários por natureza do batismo. Este apelo me acompanhou em diferentes situações da vida. Acho importante mencionar os lugares que foram minha escola missionária. Primeiro, a família que me ensinou o amor solidário com os mais pobres e a partilha do que somos e temos. Segundo, a comunidade de Sapucaia do Sul, de onde venho e nas comunidades onde exerci o ministério. Nelas aprendi a importância da presença e do compromisso missionário. Carrego no coração o dinamismo do projeto Missão Popular que nos trouxe a consciência de que na Igreja de Cristo, todo batizado missionário. Terceiro, os cinco anos de liberação diocesana como assessor da pastoral da juventude. Neste lugar aprendi com a juventude o que significa mesmo ser missionário. Chegamos a rodar 150.000 Km para chegar aos 62 municípios de nossa arquidiocese. Foram anos de graça no projeto missão jovem. Outro lugar de aprendizado missionário se deu na fraternidade de padres Jesus Cáritas, lá conheci muitos padres europeus, comprometidos com o povo brasileiro. <br />Sem dúvida, vou na coragem de tantos que já partiram. Tive a graça de acompanhar e visitar o Pe.Loivo que está na igreja irmã do Xingu e do Rodrigo na Amazônia. Também recordo do Pe.Camilo, Pe.Fabiano, Pe.Roberto e Pe.Almo quando foram a Moçambique. A coragem e decisão deles sempre me inquietaram. <br />Muito contribuiu recentemente o espírito missionário da Igreja na América Latina, traduzido no documento de Aparecida. É um novo pentecostes em nossa Igreja que exigirá mudanças estruturais. “A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária” (370, Aparecida).<br />Agradeço a comunidade Caravaggio e a arquidiocese de Porto Alegre na pessoa de Dom Dadeus Grings que me enviam na missão de Moçambique. Rezem por este missionário e vivam intensamente este ano Paulino, apóstolo de Cristo.Pe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6751959622039657678.post-84909521107773733722008-07-31T18:55:00.000-07:002008-07-31T19:19:18.966-07:00Vocação e Missão<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPLZmRd6vYt9a6mXCPu6ANgljk3AGQJfwtKeB0yfBUnPch3LjpU8iGZhe6uoKOBjRNyLYB1d5KNH_g9ImD94XZA2QPT_n3Ox-m4C8lSw50I6H8tN8Ep11tOcGjjGL3dDOPwFo_M1uUzqs/s1600-h/diversa+662.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPLZmRd6vYt9a6mXCPu6ANgljk3AGQJfwtKeB0yfBUnPch3LjpU8iGZhe6uoKOBjRNyLYB1d5KNH_g9ImD94XZA2QPT_n3Ox-m4C8lSw50I6H8tN8Ep11tOcGjjGL3dDOPwFo_M1uUzqs/s320/diversa+662.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5229368104474835442" /></a><br />A vocação tem a ver com identidade, aquilo que realmente somos. Podemos acolher ou negar nossa identidade. Acolhendo, vivemos a experiência de dar sentido à vida e negando vivemos o vazio de sentido em buscas equivocadas de felicidade. A vocação missionária é uma espécie de semente lançada em nós no batismo, com todas as potencialidades para dar muitos frutos. É nossa identidade mais profunda. Faz parte de nosso ser. Somos missionários por natureza, mas é ao longo do caminho que vamos identificando mais e mais, o que realmente somos chamados.<br />Em minha experiência, percebi a força do Espírito do Senhor que me convoca e envia em missão a nossa Igreja irmã de Moçambique, África. É um chamado irresistível que exige certa radicalidade. Vai crescendo em mim a consciência de que este apelo vem do Espírito de Deus. Pessoas e situações foram instrumentos que facilitaram o discernimento para descobrir este chamado “ad gentes”. <br /> O DVD, produzido pela Rede Vida do Estado e apresentado para os padres no retiro com Dom Jaime me ajudou muito na decisão. Nele uma mulher diz que: “não há verdadeira alegria sem passar pelo sofrimento”. Achei muito profunda esta afirmação. É isto mesmo, sem cruz não há ressurreição. O discípulo(a) de Jesus é convidado a tomar a cruz de cada dia. Somos tentados, como o mestre, a descer da cruz. “Se és Filho de Deus desce da cruz”. Escolher caminhos de facilidade, prazer, poder e vida cômoda, será sempre nossa tentação de descer da cruz, fugindo da dor, dos desafios e sofrimentos. Estou tendo esta graça e coragem de acolher uma vida mais simples e desapegada. De compartilhar o que sou com os pobres e abandonados da África. <br />Como já afirmei, vou na coragem dos que já foram. Creio que não irei sozinho. De alguma forma estaremos unidos pela oração, amizade e compromisso com a causa dos mais pobres. Todos que participam um pouco de minha história de vida estão me enviando. Não irei em meu nome, mas em nome da Trindade como diz meu lema de ordenação: “Enviado pelo Trindade, a servir com alegria”. <br />Agradeço a Igreja de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, nas pessoas de Dom Dadeus Grings e Dom Jaime Kohl, do setor missionário da CNBB pelo apoio e prioridade a causa missionária. A minha comunidade de origem de Sapucaia do Sul e a paróquia N.sra do Caravaggio que acolheu junto comigo este sopro do Espírito. A pastoral de juventude, minha escola missionária. A família, que mesmo sem compreender esta decisão, será junto comigo presença solidária no continente africano. Vou em nome de toda Igreja povo de Deus que confirma esta graça do Espírito e me envia em missão. Conto com as orações de todos vocês.Pe.Maurício Jardimhttp://www.blogger.com/profile/09428957857856219457noreply@blogger.com1