terça-feira, 28 de setembro de 2010

Escolinha de Jesus


Que novidade traz este mês missionário?
Aqui em nossas experiências missionárias em Moçambique, vivemos diante de novidades e surpresas cotidianas. Estamos em tempo de sínodo aqui na arquidiocese de Nampula, por isso em nossa agenda de setembro tivemos nove assembléias sinodais nas regiões pastorais. É apenas o primeiro ano de uma longa caminhada. O que me impressiona, é que nenhuma das cento e quarenta comunidades, faltaram nestas assembléias. Chegam caminhar a pé ou vir de bicicletas quarenta quilômetros para reuniões de um ou dois dias. Quando os vejo sentado nas esteiras o dia inteiro de trabalho ou a noite dormindo debaixo dos cajueiros compreendo um pouco do que significa ser missionário.
Tenho refletido de que missão e discipulado são inseparáveis. Quando separamos, corremos o risco de fazer da missão a realização de nossos projetos pessoais. Se não for missão em nome de Jesus na força do Espírito e com envio da Igreja, cai-se na tentação de reduzir a missão em fazer muitas coisas, mesmo que úteis e necessárias. Missão na perspectiva dos relatos evangélicos exige tempo na escolinha do discipulado de Jesus. Nesta escolhinha não há formatura. É um itinerário que se faz passo a passo no seguimento a Jesus.
Sonho com uma escolinha do discipulado que prepare missionários(as) para diferentes frentes de missão. Uma escolhinha baseada no evangelho, sem doutores, mas com testemunhas. Uma escolhinha de itinerários que levam o discípulo (a) a experiência de uma profunda amizade e intimidade com Jesus e sua proposta. O modelo desta escolhinha não seria o mesmo de nossas universidades que herdaram da escolástica o método indutivo. Estas, tem o mérito de formarem bacharéis, mestres e doutores especialistas na argumentação e na racionalidade. Sem desprezar estas, sonho com outro modelo, outro método, o dedutivo-testemunhal.
Nesta escolinha do discipulado não haveria salas de aulas convencionais com mesas, cadeiras e cátedra. Cada aprendiz receberia na inscrição uma Bíblia e um avental. No currículo as aulas práticas ocupariam maior espaço. O enfoque no discipulado teria grande relevância nas reflexões. Os temas seriam divididos em etapas que favorecessem o percurso do discípulo. Os candidatos ficariam na escolinha um tempo suficiente para a experiência de vida comunitária. Os serviços e as despesas de alimentação seriam todos divididos de modo que todos aprendessem lavar, limpar, cozinhar e partilhar.
A Palavra de Deus, a Eucaristia, a oração, a mística e a contemplação, ocupariam tempo privilegiado nesta escolinha. Todos (as) fariam exercícios diários de escuta e silêncio diante do mistério de Deus e de sua Palavra. A disciplina de relevância seria na especialidade de oração e doação da vida aos outros.
Os doutores-testemunhas desta escolinha seriam em humildade, serviço, paciência, diálogo, mística, gratuidade e compromisso com os mais pobres. Os carreiristas que gostam de ocupar os primeiros lugares, os soberbos que gostam de se impor, os mesquinhos de coração, os acomodados, os narcisistas que vivem em função de si mesmos, os capitalistas que tem o seu tesouro no dinheiro e as estrelas que gostam de aplausos não seriam aprovados nesta escolinha. Por isso, não poderiam ser discípulo e em conseqüência não poderiam ser missionários (as).
A novidade desta escolhinha está na radicalidade das opções, no estilo de vida e numa formação sólida que prepare os missionários (as), pois “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para ser Reino de Deus”(Lc9,62).


Pe.Maurício da Silva Jardim
Missionário em Moçambique

5 comentários:

lucia disse...

Padre Mauricio, muita Paz!
Muito linda e verdadeira sua reflexão. Sim, para viver a missão é preciso viver o discipulado. Jesus escolheu os que queriam pagar o preço para estar ao seu lado, os disponíveis, os humildes,aqueles que tinham tempo para segui-lo.
Jesus ensinou seus discipulos, viveu com eles, os repreendeu, mas principalmente cuidou deles.Jesus foi mestre no cuidado com aqueles que livremente aceitaram segui-lo. E, principalmente ensinou-os a arte de escutar a vontade do Pai.
A escolinha de Jesus que você tão bem descreve é a unica forma de formar missionários verdadeiros, humildes e conscientes, porque ela revelará que na escuta da Palavra de Deus, na Eucaristia, na oração , na partilha diária e na doação aos mais pobres, o Espírito Santo conduzirá a cada um,não a viver de projetos futuros que nunca se concretizam, mas a conhecer apenas o próximo passo. O futuro não importa, "o dia de amanhã terá o seu cuidado",disse Jesus, o que importa é fazer o passo certo, aqui e agora.
Eu fui chamada para esse tempo, e esse é o tempo que eu recebi para me colocar a caminho.
E você Padre Mauricio, sem saber já está conduzindo sua escolinha, e como se percebe, muito bem.Acredito que é assim, sem muitos métodos, sem muitos projetos, apenas a Biblia e um avental. Continuarei rezando por vocês, vocês são exemplo de vida para nós. Abraços

Fernando Pina Fernandes disse...

Querido amigo Padre Mauricio!!
Sempre é uma alegria ler e rezar as tuas experiências e saber tuas noticias.
Precisamos de muitas escolinhas de Jesus neste modelo que propuseste.
Aqui somos mais alguns alunos matriculados, comungando de tuas experiências....um grande abraço eu um beijo no coração!!

NSApanfletagem disse...

Amigo, Que saudades de nossas conversas a beira da mesa regada a uma bela massa caseira.Fico feliz de ver que estás na missão, cada vez com mais garra e dedicação.
Infelizmente , Eu e a ivete estamos separados, mas continuamos amigos e nos dedicando a criação dos filhos. A Gabrielle já está na Faculdade DE ciencias contábeis na URFGS. E o GUiLHERME preparando-se para a Crisma NO PRÓXIMO ano.
Como é bom poder acompanhar teu trabalho. UM ABRAÇO E A PAZ DE CRISTO.

lucia disse...

Padre Mauricio, a todos vocês missionários e missionárias, que fazem a diferença no mundo, em terras tão distantes, levando o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo a ser mais conhecido, amado e adorado , abraços sinceros e votos de um Feliz natal e abançoado Ano Novo. De quem os estima muito, Lucia.
Não esqueça de dizer às crianças da Africa que eu as amo muito...

Unknown disse...

Olá Padre. Faz pouco tempo que entrei em um grupo de juventude missionária aqui na paróquia que frequento e passei por aqui para lhe parabenizar por seu trabalho desenvolvido em Moçambique e dizer que Nós este mês estamos rezando por Vocês em especial. Que Deus abençõe o Sr. e o respectivo lugar em que esteja em missão. Amém.