segunda-feira, 12 de abril de 2010

Nascer do alto


Pentecostes é a grande festa do Espírito. Convite para re-nascermos do alto. Nascer do alto é algo misterioso. Nicodemos já colocara a questão: “Como é que alguém pode nascer se já é velho? Poderá outra vez entrar no ventre de sua mãe?” (Jo3,4).
Para nascer de novo é preciso respeitar o tempo de gestação no Espírito. Para gerar vida no Espírito, qual seria o tempo necessário? Difícil responder, pois a lógica que segue o Espírito é outra. O tempo de Deus é outro.
Confesso que sempre tive a sede de nascer do alto. Ser um homem guiado pelo vento do Espírito e não pelos instintos da carne. Mas esta é uma luta desigual entre carne e espírito. Até hoje não compreendi bem o que significa nascer do alto, da água e do Espírito. Tenho a intuição que esta realidade começa lá dentro, no lugar mais escondido, no coração de cada pessoa. É lá que silenciosamente o Espírito atua, sem grandes barulhos de vozes ou ruídos que possam ser ouvidos. Parece estranho, nascer de novo, do alto e do Espírito.
Na noite de pentecostes de 2008, aconteceu algo estranho comigo ao ler uma das cartas do Pe.Fabiano Dalcin, missionário na Igreja irmã em Moçambique. Nela relatava sua experiência de missão e no final fazia um apelo: “Peço também, e é por isso que vos escrevo, que se unam às minhas orações para pedir ao Espírito Santo que ilumine a Igreja do Rio Grande do Sul e os bispos do regional sul 3, afim de que encontrem meios e pessoas de boa vontade para serem enviados como missionários e missionárias, de modo especial sacerdotes, para darem continuidade a este projeto missionário em Moçambique”(Pe.Fabiano, maio de 2008). Naquela noite relacionei este texto com outros apelos do Espírito. Entre eles o retiro pregado por dom Jaime Kohl, onde nos falava do projeto Igreja solidária com Moçambique. Neste retiro já sentira o apelo do Espírito em partir para missão, mas resisti pensando dar este passo mais tarde. Na mesma noite de Pentecostes decidi escrever ao Pe.Camilo Pauletti, missionário que já esteve seis anos em Moçambique. Relatei minhas inquietações dizendo-lhe também de sete motivos para não partir. Ele contudo, começa respondendo: “Bendito seja Deus, que nos provoca, chama e nos deixa inquietos. Você com este sopro do Espírito, faz a gente acreditar que o Senhor não abandona os mais pequenos”.
Já havia compreendido que para partir seria preciso o parto tão difícil e arriscado. Tomei coragem e fui conversar com Dom Dadeus Grings colocando estas inquietações. Simplesmente ele respondeu: “Quem somos nós para ir contra o Espírito Santo”. Desde aí não olhei mais para traz. O apelo que tanto inquietou tomou seu rumo e me fez atravessar o atlântico ao encontro do desconhecido.
Aquele pentecostes de 2008 foi de fato estranho. Começo acreditar que nada de bom acontece na Igreja e em nossas vidas que não nos seja dado do alto, do Espírito que nos foi concedido pelo Pai em comunhão com o Filho. O parto continua a cada pentecostes e a cada dia. É preciso sempre nascer do alto. Assim diz a epístola aos Romanos: “Nós sabemos que toda criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adoção filial e a libertação do nosso corpo” (Rm8, 22).
Comecei entender também que pentecostes é o dia do envio. Neste dia está a essência missionária da Igreja. Naquele dia Jesus reunido com seus discípulos diz: “Assim como o Pai me enviou, também eu envio. E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo” (Jo20,21-22).
Continuo suplicando que o Espírito suscite inquietações e apelos no coração da Igreja que nos envia. Estamos agradecidos também pelo apoio financeiro que nos mantém na missão de duas paróquias com 140 comunidades na diocese de Nampula. Somos uma equipe de cinco pessoas, dois padres e três leigos. Estamos confiantes que neste pentecostes o Espírito suscitará com sua força homens e mulheres que se deixem nascerem do alto e partirem onde o próprio Espírito os enviar.

Pe.Maurício da Silva Jardim
Missionário em Moçambique

4 comentários:

lucia disse...

Padre Mauricio:
Li muito emocionada seu testemunho que com certeza fortificou muito minha fé.Vindo de um sacerdote jovem como você, que parte para o desconhecido, sabendo-se privado de todo e qualquer conforto material,abrindo mão de qualquer vaidade humana, só pode ser obra do Espirito Santo. Eu entendo que todos somos batizados pela agua, mas o ser batizado no Espirito é ser capaz de acolher o chamado do Senhor,para fazer não a nossa vontade, mas para se deixar conduzir pelas asas do Espirito que sopra onde quer. Ser missionário é ser antes de tudo profeta . Profeta é aquele que ouve a voz do Senhor, se inquieta, se questiona e parte rumo ao desconhecido, confiando que o Senhor o conduzirá.Conte sempre com minhas orações. Você, Padre Camilo e Padre Fabiano são profetas do nosso tempo.Que bom que nós, rebanho do Senhor, podemos ser guiados por pastores como voces.Que o Senhor os abençoe e abençoe também esse maravilhoso povo africano. Abraços. Lucia- carlos barbosa RGS

Pe.Maurício Jardim disse...

Obrigado Lucia pelas palavras de apoio. Acho que a gente nem se conhece, mas fico feliz que chegou o texto nascer do alto....estou mto feliz aqui nesta missáo,...abraço e continue rezando por nós.

Unknown disse...

Sou, amiga do Pe. Fabiano Dalcin e gostaria muito de volta ater contato com ele. Se puder passe para ele o meu MSN nildaoliveira123@hotmail.com ou e-mail nildadeoliveira@yahoo.com.br

Adorei o seu testemunho!

Unknown disse...

Sempre participei de Movimentos relacionados a cultura Afro-descendente aqui no Brasil. Trabalho esse resgate na Escola Estadual onde estou atuando. Manter contato com vcs vai ser muito interessante para mim. Espero trocarmos mais idéias . Abraços Nilda